Feito histórico: MEAC realiza primeira cirurgia fetal com útero exposto no Ceará

Imagem: Cirurgiões com o útero exposto (Foto: Nilfácio Prado)A Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC), do Complexo Hospitalar da UFC/EBSERH, realizou, no último domingo (26), a primeira cirurgia realizada no Estado do Ceará para corrigir uma malformação congênita de um feto ainda dentro do útero da mãe. O procedimento cirúrgico de alta complexidade ocorreu um dia depois de Fernanda Oliveira completar 35 anos e a poucas semanas do nascimento de sua filha Maria Giovana, que entra para a história da medicina fetal do Ceará como a primeira bebê operada em útero exposto para correção de mielomeningocele.

Coordenada pelos professores Edson Lucena e Herlânio Costa, da Faculdade de Medicina da UFC, a cirurgia foi viabilizada com a vinda de quatro médicos de São Paulo: os neurocirurgiões Sérgio Cavalheiro e Italo Suriano e os obstetras fetólogos Antonio Fernandes Moron e Maurício Barbosa.

Também participaram o neurocirurgião pediátrico Eduardo Jucá e a anestesiologista Fernanda Castro e equipe com mais de 20 profissionais. O procedimento foi um sucesso: mãe e bebê se recuperam muito bem e seguirão monitorados até o nascimento.

Imagem: Enfermeira e moradora de Russas, Fernanda Oliveira já está andando e se recupera bem (Foto: Danielle Campos)A principal inovação na técnica utilizada é que ela é feita "a céu aberto", ou seja, os médicos colocam o útero da paciente para fora e fazem uma pequena incisão nele, através da qual operam a coluna do feto. Em seguida, fecham as incisões e o útero é inserido novamente no abdômen da mãe. A gestação segue normalmente até o nascimento do bebê, geralmente prematuro.

"O procedimento melhora o prognóstico dessas crianças no sentido motor, neurológico e no desenvolvimento em toda a sua vida, com menor taxa de hidrocefalia. Já há evidências científicas consistentes de que quando a cirurgia é realizada intra-útero o resultado neurológico é melhor do que a cirurgia pós-natal", explica o Prof. Edson Lucena.

No caso da cirurgia "a céu-aberto", o ideal é sua realização entre a 24ª e a 26ª semanas da gravidez. Para isto, é fundamental que o diagnóstico seja feito o mais precoce possível para que haja tempo de orientação adequada e preparo da paciente e a família possa tomar sua decisão. "A mielomeningocele já pode ser suspeitada no ultrassom morfológico de 1º trimestre, entre 11 e 14 semanas de gestação, e confirmada a partir da 15ª semana, em geral, no morfológico de 2º trimestre, de 18 a 24 semanas", aponta Herlânio Costa.

SOBRE A MIImagem: A equipe da cirurgia contou com mais de 20 profissionais (Foto: Unidade de Comunicação Social da MEAC)ELOMENINGOCELE – Também conhecida como espinha bífida aberta, a mielomeningocele é uma malformação congênita da coluna vertebral do bebê em que as meninges, a medula e as raízes nervosas estão expostas. O defeito surge antes da 8ª semana de gestação. Se não corrigido, traz graves sequelas no desenvolvimento neurológico da criança. As causas são multifatoriais, podendo ser genéticas ou ambientais.

A Sociedade Brasileira de Neurocirurgia estima que, a cada 1.000 nascimentos, 1 a 10 bebês podem ter essa condição. Por isso, a medicina fetal tem concentrado esforços para tentar corrigir com o máximo de precocidade, evitando danos mais severos. A técnica mais comum é uma neurocirurgia nos primeiros dias após o nascimento. Mas nos últimos anos, a cirurgia no bebê ainda no útero da mãe tem sido a opção mais eficaz.

PERSPECTIVAS – Segundo o gerente de Atenção à Saúde da MEAC, Carlos Augusto Alencar Júnior, a Maternidade-Escola já deu entrada ao processo de habilitação para oferecer neurocirurgias de alta complexidade, como esta, via Sistema Único de Saúde (SUS).

Anseio compartilhado com o também Prof. Moron: "Hoje marcamos um momento importante da história da cirurgia fetal do País. As pessoas buscam realização de cirurgia de forma isolada. Aqui tivemos um comprometimento institucional, ligado ao SUS, e a mielomeningocele é mais prevalente entre pessoas de poucos recursos. Disponibilizar a cirurgia próximo da moradia dessas pessoas é fundamental", afirmou.

Moron destacou ainda que a MEAC está numa posição de liderança no Nordeste, com estrutura hospitalar e corpo técnico totalmente preparado para oferecer esse procedimento sistematicamente. Essa capacitação é resultado de um projeto de cirurgia fetal pensado para todo o Estado, numa parceria de várias especialidades, incluindo cirurgia pediátrica capitaneada pelo Prof. Aldo Melo, da UFC.

Imagem: Os médicos Edson Lucena, Carlos Augusto e Herlanio Costa, do Complexo Hospitalar da UFC (Foto: Unidade de Comunicação Social da MEAC)ESPERANÇA – Enfermeira e moradora de Russas, a 150 quilômetros de Fortaleza, Fernanda Oliveira já é mãe de Maria Beatriz, de cinco anos, que também tem mielomeningocele. As limitações no desenvolvimento da primogênita foram a principal motivação para que a família buscasse um tratamento precoce para a bebê que está sendo gerada.

"Busquei informação em todo o País, mas a cirurgia particular era impossível para nós. Foi um especialista de Curitiba quem me indicou o Dr. Herlânio, aqui da MEAC", contou. A partir da primeira consulta na Maternidade-Escola, a família e o hospital se organizaram rapidamente para a cirurgia. Três dias após o procedimento, Fernanda segue se recuperando muito bem, conseguindo andar, está medicada e sem dor.

O marido e a mãe também estão dando todo o suporte. "É uma vitória de toda a família. A saúde da Giovana vai ser importante até mesmo para a qualidade de vida da Beatriz, que demanda muito nossa atenção. Não temos palavras para agradecer a Deus e a todos os profissionais envolvidos", conclui a paciente.

Fonte: Unidade de Comunicação Social da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand – fones: (85) 3366 8577 e 99257 1907