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País está ficando mais pobre, e pandemia revela ineficiência do Estado, afirma Marcos Lisboa no segundo dia dos EU 2019

Captura de tela com a live da palestraO Brasil vem crescendo menos e está se tornando um país mais pobre. A crise sanitário-econômica gerada pelo novo coronavírus vem agravando essa situação, e revela as fragilidades e ineficiências do Estado brasileiro nas últimas décadas. Essa é a avaliação que o economista Marcos Lisboa trouxe no segundo dia dos Encontros Universitários 2019, através da palestra magna "Desafios da pandemia e a economia", realizada em formato on-line e que segue no ar no canal do evento no YouTube.

Ao longo das duas horas de live, a palestra contou com público constante de cerca de 600 pessoas, que participaram com comentários e perguntas, levadas ao convidado pela mediação do pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFC, Prof. Jorge Lira, e do Prof. Paulo Matos, da Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade (FEAAC) da UFC.

Lisboa, que é o atual presidente do Insper ‒ instituição de ensino superior e de pesquisa sem fins lucrativos ‒ destacou que problemas estruturais crônicos do Brasil se tornaram agudos com o avanço da pandemia.

"Temos um país com vários problemas estruturais e uma economia que não cresce fortemente nos últimos 40 anos. Só cresceu mais nos governos FHC [Fernando Henrique Cardoso] e Lula, que foi quando o Brasil conseguiu acompanhar a média de crescimento dos outros países", apontou. "Se tem algo que a crise revela é como o Estado brasileiro, não em todas as áreas, mas em sua grande parte, é incompetente", completou.

MÁQUINA PÚBLICA CARA O economista considera que a máquina pública brasileira é muito cara, bem mais que na maioria das nações. "O Judiciário é mais caro que em outros países, a educação, a saúde é uma exceção, mas, no geral, o gasto cresce mais que a renda brasileira", analisou.

Segundo ele, a educação, por exemplo, é um setor que deveria apresentar resultados bem melhores do que os que mostra, considerando os investimentos que recebe. Para Lisboa, a universidade brasileira é pouco produtiva, apesar de ter "ilhas de excelência". O economista prega que o Brasil não conseguiu criar no setor público um compromisso com a qualidade dos serviços. A avaliação do desempenho do servidor público e dos serviços das instituições deveria ser, em seu ponto de vista, uma meta a ser assumida pelo Estado.

TEMAS POLÊMICOS ‒ O pesquisador aprofundou a discussão em diversas questões polêmicas, inclusive suscitando debates em tempo real por parte dos participantes da live. Entre estes temas, estavam os da reforma da previdência e do encolhimento do Estado.

Para o presidente do Insper, estes são dois temas constituem o "dever de casa" que deve ser cumprido para que o País reverta sua trajetória de empobrecimento. Lisboa defende que o exemplo seja dado, inicialmente, por políticos, que geram um custo aos cofres públicos que seriam dos mais elevados do mundo. "Não seria uma redução muito relevante para a máquina, como um todo. Mas tem que dar o exemplo".

O economista advoga que os estados e municípios precisam realizar uma reforma da previdência de maneira rápida, além da revisão de cargos e salários do setor público. "Não pode ter aumentos automáticos, como tem hoje, não dá pra ter servidor recebendo 80 mil reais por mês". Lisboa pondera que o Brasil é um país pobre, o qual, caso houvesse uma realidade de total igualdade de renda, teria cada brasileiro com salário entre 3 e 4 mil reais. "E a gente acha razoável servidor público ganhar acima de 30 mil reais?", questiona.

ALTA TRIBUTAÇÃO ‒ Marcos Lisboa também criticou o sistema tributário brasileiro e afirmou que a alta tributação tem feito com que empresas deixem o País. "São bancos, grandes varejistas, investidores externos. Estamos afugentando quem pode gerar emprego e renda no brasil. Estamos nos condenando a uma longa estagnação", sustenta. O economista aponta que a carga tributária atual de 33% do Produto Interno Bruto (PIB) é "descomunal" para um país pobre. "Os nossos vizinhos a têm em torno de 20%. O que a gente faz de errado pra ser tão caro?", critica.

Para ele, o sistema brasileiro de tributação é disfuncional e a estratégia de aumentar ainda mais a tributação, como se costumou realizar no País, com novos impostos, não irá resolver o grande problema da desigualdade social. A taxação de grandes fortunas, levantada em discussão nos comentários dos internautas, apontou, não seria solução.

REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES ‒ Para Marcos Lisboa, a maneira mais eficaz de reduzir desigualdade é via política de gasto público. "É gastar bem com as pessoas, é cuidar da educação das crianças, cuidar da primeira infância, cuidar da saúde, para que eles possam ser adultos produtivos e disputar com os ricos o mercado de trabalho. (...) Então, no começo, você cuida dos mais vulneráveis, com a melhoria do Bolsa Família, garante que a escola tenha qualidade, o que nós não fazemos, para que a próxima geração tenha melhor condição de vida."

PERFIL ‒ Marcos Lisboa foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda de 2003 a 2005. Exerceu ainda, de 2006 a 2009, a função de diretor-executivo e vice-presidente do Itaú Unibanco. Em 2010, Marcos Lisboa recebeu o prêmio de economista do ano da Ordem dos Economistas do Brasil. Hoje, além de presidente do Insper, é também colunista do jornal Folha de São Paulo.

ENCONTROS – A edição de 2019 dos Encontros Universitários está sendo realizada, pela primeira vez, em formato digital. Até esta sexta-feira (22), a comunidade acadêmica terá palestras, apresentações de trabalhos e lives artísticas. Após o evento, as palestras serão disponibilizadas no canal UFCTV no Youtube. A programação completa está disponível na plataforma dos EU 2019 (www.eu2019.ufc.br).

Fonte: Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UFC, organizadora dos Encontros Universitários 2019 – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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