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Estudo publicado na "Nature" traz análises inéditas sobre gene associado ao câncer de medula óssea

Imagem: Profissional de saúde cujo rosto não aparece segura um simulacro de medula óssea (Imagem: Science Photo Library)Pesquisa realizada com participação da Universidade Federal do Ceará traz novos esclarecimentos sobre a mielodisplasia, síndrome associada ao câncer de medula óssea. Publicada na Nature, maior revista científica do mundo, a pesquisa analisa consequências, até então não estudadas, de mutações de determinado gene, o que ajuda a entender o nível de agressividade do câncer e da sobrevida dos pacientes.

Desenvolvido em parceria com o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da UFC, o novo estudo tem como base a investigação das mutações do gene TP53, importante proteína que age como uma espécie de supressora de tumores de câncer. É comum que pacientes com neoplasias apresentem mutações nesse gene, tornando-o um dos principais alvos nas alterações genéticas que acompanham o avanço da doença.

No caso de pacientes com síndromes mielodisplásicas (SMD), as mutações no gene TP53 estão associadas ao surgimento de doenças de alto risco, inclusive com rápida transformação para uma possível leucemia mieloide aguda, que se inicia na medula, e a uma maior resistência aos tratamentos convencionais das síndromes.

O estudo com participação do NPDM analisou 3.324 diferentes pacientes com SMD, levando em conta os desequilíbrios apresentados em seus estados alélicos (alelos são variações de um mesmo gene que definem como a característica do gene irá se apresentar no indivíduo: a cor do cabelo, por exemplo; existem alelos para cada variação de cor). Cada gene possui, portanto, duas cópias: uma proveniente do pai, e outra, da mãe.

Duas categorias de pacientes foram definidas a partir da análise: aqueles com mutações monoalélicas (em apenas uma cópia do TP53), que representaram um terço do total de pacientes, e aqueles com mutações bialélicas (nas duas cópias), dois terços do total. Para estes últimos, houve maior número de aberrações cromossômicas, maior risco de transformação para leucemia e menor sobrevida.

"O TP53 é importante porque, sempre que o corpo detecta alteração, ele causa apoptose (morte) da célula. É a primeira vez que demonstramos, para o câncer de medula, que, quando o TP53 está alterado nos dois genes, é porque há uma prognóstico mais desfavorável", ressalta o Prof. Ronald Pinheiro, coordenador do estudo no NPDM.

MAIORES E MENORES RISCOS – De modo geral, no caso de pacientes com mutações monoalélicas, houve constatação de menor taxa de citopenia (quando há redução na quantidade de células sanguíneas) e menor porcentagem de células imaturas na medula óssea. Esse último fator é essencial para definir o avanço da leucemia, já que seu desenvolvimento se dá pela maior presença de células jovens, chamadas de células blásticas, na medula óssea.

A sobrevida, duração de tempo que os pacientes permanecem com vida desde o diagnóstico da doença ou início do tratamento, foi outro fator de comparação, sendo a taxa para pacientes com mutações monoalélicas em média 3,4 vezes maior. Enquanto estes tinham uma sobrevida média de 2,5 anos, os pacientes com mutações bialélicas tinham média de 8,7 meses.

Com a nova pesquisa, constata-se que a análise das implicações biológicas e clínicas dos estados alélicos do gene TP53, até então não realizada, é essencial para diagnósticos e prognósticos mais precisos de SMD.

Na prática, isso significa que, a partir dessas análises, se torna possível indicar tratamentos diferentes, que possam ser mais eficazes para cada caso, com a aplicação do conceito de "medicina personalizada".

"Nos cânceres de medula, quando você tem mutação nos dois genes, o tratamento tem que ser o mais agressivo possível. Como esses pacientes têm comportamentos diferentes, você deve encontrar novos marcadores moleculares, indicando tratamentos diferentes. Você pode indicar novas drogas que vão sendo lançadas, pois não adiantaria fazer quimioterapia tradicional", explica o Prof. Ronald.

SAIBA MAIS – A publicação é feita por pesquisadores de laboratórios e institutos de diferentes países, como EUA, Japão, Áustria, Itália, Espanha, Reino Unido, Alemanha, Suécia, Países Baixos, França, Grécia, Tailândia, República Tcheca e Taiwan. No Brasil, além do NPDM, participou do estudo o Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Albert Einstein, de São Paulo.

Veja o artigo publicado na Nature (em inglês).

Fonte: Prof. Ronald Pinheiro, do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da UFC – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Por Kevin Alencar

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