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Estudo da UFC inédito no mundo sugere que moléculas criadas em laboratórios podem bloquear coronavírus

Frutos de mamona Um estudo desenvolvido na Universidade Federal do Ceará pode trazer novas possibilidades de tratamentos preventivos contra a covid-19, impedindo a infecção pelo SARS-COV-2 (novo coronavírus). De forma inédita, os pesquisadores da UFC apontaram, por meio de estudos in silico, que moléculas sintéticas, criadas a partir de proteínas encontradas em plantas, podem agir para bloquear a ação do vírus.

O estudo, publicado no International Journal of Biological Macromolecules, importante jornal de divulgação científica, avaliou a eficácia de oito moléculas (chamadas de peptídeos) que interagem com o vírus para impedi-lo de se comunicar com a proteína humana que o "recebe". Essa é a primeira vez no mundo que uma pesquisa utiliza peptídeos sintéticos para tentar bloquear a infecção por coronavírus.

As oito moléculas estudadas apresentaram interação com o vírus, mas duas em especial, batizadas de Mo-CBP3-PepII e PepKAA, apresentaram melhores resultados e devem ganhar estudos mais aprofundados para ter sua ação preventiva comprovada. A conclusão dos pesquisadores, com base nos resultados, é que elas possuem potencial para desenvolvimento de novos medicamentos.

O Prof. José Tadeu Oliveira, um dos pesquisadores que assina o estudo, alerta, porém, que o caminho até a produção de drogas ainda é longo. "Essa pesquisa não significa a cura da doença. É uma pesquisa básica que mostra alternativas de combate à covid-19, impedindo que o vírus tenha acesso às células humanas. A ação desses peptídeos verificada in silico terá, necessariamente, de ser comprovada em estudos in vitro e in vivo", ressalta.

Participam ainda da investigação o pesquisador da UFC Pedro Filho Noronha de Souza, o Prof. Cleverson Freitas e os estudantes de doutorado Francisco Eilton Lopes e Jackson Amaral. A concepção dos peptídeos foi feita em laboratório a partir de proteínas encontradas em plantas como acácia-branca, erva-estrelada e mamona, amplamente disponíveis na biodiversidade brasileira e já utilizadas para estudos anteriores, pelo mesmo grupo, contra outros microrganismos.

COMO FUNCIONA – Para impedir a infecção, os peptídeos induziram alterações na estrutura da principal proteína do coronavírus, a spike, que fica do lado exposto do envelope lipídico do vírus e tem formato de espinho. É ela que interage com a proteína ACE2, que se localiza na superfície da membrana de células humanas e serve como porta de entrada para a infecção.

As simulações mostraram que, uma vez alterado na sua principal ferramenta de entrada, o SARS-COV-2 fica impossibilitado de interagir de forma eficaz com a ACE2, não podendo entrar na célula. Sem essa ligação, não ocorre a replicação do vírus no organismo e não há infecção. Porém, a pesquisa permanece, por enquanto, no campo da teoria, já que foram feitos apenas testes in silico, ou seja, em modelos de simulação de algoritmo. Novos estudos ainda devem ser feitos para gerar resultados mais conclusivos.

Uma parceria com pesquisadores alemães já está sendo estudada, o que possibilitará os estudos in vitro. "Não temos o vírus e as células humanas em laboratório, então podemos sintetizar os peptídeos e entregá-los para que o SARS-COV-2 seja posto em contato com essas moléculas em culturas de células humanas, avaliando o comportamento [dos peptídeos] na prática", explica o Prof. Tadeu.

Há ainda outros fatores a serem considerados, dependentes de futuras análises, como o caráter mutacional do SARS-COV-2, por exemplo. Além disso, há um receptor secundário, que, em situações específicas de laboratório, se apresentou como porta de entrada alternativa para o vírus: a proteína CD209L, presente nas células do pulmão, não testada pela pesquisa, mas que serve de âncora para o acesso do SARS-COV-1 às células e pode também funcionar para o SARS-COV-2.

O estudo foi desenvolvido por meio de parceria entre o Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFC e a Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE). Leia o artigo (em inglês) publicado no International Journal of Biological Macromolecules.

Fonte: Prof. José Tadeu Oliveira, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFC – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Por Kevin Alencar

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