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Estudo mostra relação entre vírus chikungunya e infecções no sistema nervoso central

Imagem: foto de uma mulher negra em um laboratório O vírus chikungunya, conhecido por causar febre e dor nas articulações, também pode ter relação com infecções no sistema nervoso central. É o que indica um estudo produzido pela Universidade Federal do Ceará e publicado, neste mês, na Clinical Infectious Diseases, revista editada pela Universidade de Oxford e um dos principais periódicos do mundo na área de ciências médicas.

No artigo "Fatal outcome of chikungunya virus infection in Brazil" ("Resultado fatal da infecção pelo vírus chikungunya no Brasil"), 38 pesquisadores, de 13 instituições nacionais e internacionais, investigaram dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais no maior estudo transversal que relaciona infecção do sistema nervoso central e óbitos causados pelo vírus chikungunya.

A pesquisa destaca que o Brasil registrou o maior surto de chikungunya das Américas em 2017. O Ceará, de acordo com o estudo, foi o estado mais afetado do País, concentrando 65,7% (105.229) dos casos suspeitos. Com base em uma investigação retrospectiva, os pesquisadores analisaram 100 óbitos durante o surto daquele ano no Ceará e constataram 68 casos fatais por chikungunya em alguma das metodologias estudadas.

"O estudo incluiu amostras de sangue, líquido cefalorraquidiano e tecido (cérebro, baço, rim, coração e pulmão) de pacientes que foram a óbito, com suspeita clínica de infecção por arbovírus, notificados pelo Serviço de Verificação de Óbito da Secretaria Estadual de Saúde do Ceará, entre dezembro de 2016 e outubro de 2017", explica Shirlene Telmos, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da UFC.

Dos 68 óbitos por chikungunya, a pesquisa constatou que 39 apresentaram sinais e sintomas neurológicos. Entre estes, 36 vítimas possuíam o genoma viral no líquido cefalorraquidiano e 4 pacientes tinham os genes do vírus presente no cérebro, "o que reforça a correlação da alta frequência de sinais e sintomas neurológicos em pacientes com chikungunya", destacam os pesquisadores.

De acordo com Shirlene Telmos, o estudo também conseguiu detectar, pela primeira vez, o genótipo do vírus que circulou no Ceará em 2017. "Já tínhamos duas linhagens circulantes no Brasil, o ECSA [Centro Leste Sul Africano], que entrou por Feira de Santana, na Bahia, e o Asiático, [que foi detectado] no Oiapoque, Amapá. Nesse estudo, sequenciamos o vírus e detectamos o ECSA como o genótipo que circulou no estado em 2017", revela.

Imagem: foto do mosquito aedes aegypti picando a mão de uma pessoaA pesquisa mostrou ainda que as mortes ocorreram predominantemente em adultos com 40 anos ou mais, e o tempo médio entre o início dos sintomas e o óbito foi de 12 dias. Os resultados também mostraram que os pacientes com diabetes têm maior chance de óbito na fase subaguda da doença (que varia de 20 a 90 dias de infecção).

No entanto, os pesquisadores enfatizaram que as mortes por chikungunya podem ocorrer em populações que normalmente não são consideradas grupo de risco, como pessoas jovens e saudáveis. A análise realizada no estudo indica também que os óbitos foram resultados de distúrbios hemodinâmicos dos órgãos vitais, como cérebro, coração, pulmão, rins, baço e fígado.

Os pesquisadores concluíram que as mortes por chikungunya podem não ser raras durante grandes surtos e podem ocorrer mesmo em populações de baixo risco. Além disso, acreditam que as diretrizes e o diagnóstico precisam ser melhorados para prevenir resultados fatais em pacientes infectados com o vírus.

O artigo é resultado do projeto de pesquisa de doutorado de Shirlene Telmos, orientada pelo Prof. Fábio Miyajima, do PPG em Ciências Médicas da UFC, com coorientação do Prof. Luciano Pamplona, do PPG em Saúde Pública da UFC.

A pesquisa conta ainda com o apoio de William Marciel de Souza, pesquisador da Universidade de São Paulo, e Darlan da Silva Cândido, egresso da UFC e doutorando na Universidade de Oxford, além da colaboração de outros 33 pesquisadores de instituições como o Laboratório de Saúde Pública do Ceará, o Centro Universitário Christus, o Instituto Conmemorativo Gorgas de Estudios de la Salud (Panamá), o Serviço de Verificação de Óbitos do Estado do Ceará, o Instituto Evandro Chagas, a Universidade Federal de Minas Gerais, o Ministério da Saúde, a Faculdade São Leopoldo Mandic, a Fundação Oswaldo Cruz e o Imperial College London.

CHIKUNGUNYA – Conhecida por febre chikungunya, a infecção viral é transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Os principais sintomas incluem febre alta de início rápido e dores nas articulações, podendo ocorrer ainda dor de cabeça, dores nos músculos e manchas vermelhas na pele. 

O vírus foi inicialmente encontrado na Tanzânia, em 1952, e foi introduzido nas Américas em 2013. O Brasil teve surto da doença em 2017, com mais de 160 mil casos prováveis, e ainda hoje convive com o vírus. De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, o País notificou, em 2020, 56.717 casos prováveis de chikungunya e 12 óbitos confirmados até o dia 18 de julho.

SAIBA MAIS – A Clinical Infectious Diseases é uma das principais revistas científicas do mundo nas áreas de doenças infecciosas e microbiologia. Possui fator de impacto 8.313 (2019) e é avaliada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) como Qualis A1, conceito mais elevado em relação à qualidade científica da publicação. 

Fonte: Shirlene Telmos, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da UFC – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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