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Tese da pós-graduação em Sociologia da UFC sobre cultura queijeira recebe menção honrosa no Prêmio CAPES de Tese 2020

Imagem de Fátima Lima em frente a uma prateleira de queijos A tese de doutorado "Cultura material e agência do queijo: uma sociologia da ação e reputação da comida", da egressa do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Federal do Ceará Maria de Fátima Farias de Lima, foi agraciada com Menção Honrosa no Prêmio CAPES de Tese 2020. O estudo, que analisou os debates sobre segurança sanitária, valor e agência do queijo coalho de Jaguaribe (CE), destaca-se como o representante da UFC na premiação deste ano.

Defendido em julho do ano passado, o trabalho de Fátima Lima contou com uma pesquisa de campo em regiões produtoras de queijo artesanal e que se utilizam da técnica do leite cru para a elaboração desse alimento: os queijos Coalho, em Jaguaribe, no Ceará; Canastra, de Medeiros, em Minas Gerais; e o Stichelton, em Nottinghamshire, na Inglaterra. Além da cultura alimentar análoga no processamento do queijo, esses locais compartilham um embate entre queijeiros e autoridades reguladoras sanitárias sobre a adequação ou não de queijos não pasteurizados para consumo humano.

"Atuei como pesquisadora no projeto Comida Ceará, por meio do qual tive um primeiro contato com a produção queijeira local. Naquele tempo, meados de 2008, os produtores passavam por uma adaptação produtiva e transformações na infraestrutura dos espaços de feitura dos queijos. A legislação sanitária vigente obrigava a pasteurização do leite, historicamente utilizado cru ou in natura, como estratégia de segurança alimentar, mas os queijeiros que conheci tinham muitas críticas à adoção dessa prática. Tempos depois, entendi que esse não era exatamente um problema local, posto que em outros estados experiências semelhantes vinham ocorrendo; era um debate com proporções internacionais", comenta Fátima Lima.

Dentro da premissa "somos o que comemos", a pesquisadora decidiu investigar como esse alimento afetava a vida das pessoas que com ele trabalhavam, produzindo, assim, uma história social do queijo de leite cru. Incorporando aspectos sanitários, culturais, comerciais e políticos sobre a produção queijeira, a tese traz ainda a definição de o que é saudável ou nocivo à saúde humana como fruto de relações sociais, políticas e econômicas.

"Ao invés de tentar compreender como produzimos queijo, busco entender como o queijo nos produz. Nos contextos estudados, o queijo é tratado como um personagem que tem 'vida' e com o qual se estabelece uma 'convivência'. Ele age e reage às intervenções do produtor, desafiando cotidianamente seu poder de controle. Os produtores falam, inclusive, de um cotidiano de brigas com o queijo, no queijo e pelo queijo. Assim, a tese convida a pensar o queijo como 'alimento vivo', nos termos dos produtores entrevistados, e isso significa dizer que podemos abordá-lo como parte de um cenário simbólico-material que afeta de múltiplas formas uma coletividade e comunica sobre os modos históricos de definição do comestível nesse meio", explica.

Imagem de um queijo coalhoNa fase inglesa da pesquisa, um estágio de doutorado-sanduíche na University College London (UCL), Fátima pesquisou no Centro de Estudos sobre Cultura Material, vinculado ao Departamento de Antropologia dessa instituição, sob orientação do Prof. Daniel Miller. No Reino Unido, enquanto realizava uma pesquisa exploratória sobre queijos de leite cru ingleses, a cientista se deparou com a história do queijo Stichelton, que, assim como o coalho, vinha fomentando lutas por mudanças na legislação.

"Quando cheguei a Londres comecei a buscar rotas de aproximação deste queijo. Frequentei boutiques de queijo londrinas e participei de feiras e degustações com o propósito de conhecer melhor as dinâmicas produtivas e comerciais desse alimento. Tive também a oportunidade de entrevistar o único produtor desse queijo no Reino Unido, um americano muito gentil chamado Joe Schneider, que me recebeu em sua fazenda", detalha.

No Brasil, a orientação ocorreu com o Prof. Cristian Paiva, do PPGS, que destaca a relevância da premiação para o Programa. "Embora o PPGS já tenha recebido outras honrarias em outros concursos de teses e dissertações, esta é a primeira no Prêmio CAPES de Tese. Por tratar-se do mais importante concurso de avaliação de trabalhos de pós-graduação no País, incluindo todas as áreas do conhecimento, para nós é um importante sinal de reconhecimento da qualidade do trabalho que vem sendo desenvolvido. Há que se mencionar, ainda, que o Programa de Sociologia foi o único da UFC a receber a honraria na edição de 2020", afirma.

Para Fátima Lima, o resultado do Prêmio CAPES de Tese 2020, divulgado no último dia 1º, ressalta o alto nível da pesquisa em Ciências Humanas da UFC. "Ver um trabalho de Sociologia sendo o único da UFC a figurar entre os destaques nacionais do Prêmio CAPES deste ano é uma oportunidade para lembrar que alimentar rivalidades entre as áreas do conhecimento acadêmico é dispensável e improdutivo. As diferenças de perspectivas entre as áreas são parte da riqueza do saber científico e, como o estudo sobre o queijo nos ensina, encontrar meios de construir pontes é o caminho mais profícuo para soluções aos problemas do cotidiano", avalia.

SOBRE O PRÊMIO – Para participar do Prêmio Capes, a tese deve ter sido defendida no ano anterior, no Brasil, mesmo em casos de cotutela, e em programa de pós-graduação que tenha tido, no mínimo, uma tese de doutorado defendida nesse período, além da tese participante. A tese deve ainda, obrigatoriamente, estar registrada na Plataforma Sucupira da CAPES.

São critérios de premiação: originalidade do trabalho; a relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social; e o caráter inovador.

A solenidade de entrega das premiações está prevista para ocorrer em dezembro. O Prêmio CAPES de Tese conta com parceria da Fundação Carlos Chagas, da Comissão Fulbright e do Instituto Serrapilheira, que oferecerão premiações adicionais.

Fonte: Prof. Cristian Paiva, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC -– e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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