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Mais de 300 vítimas de queimaduras já foram tratadas com pele de tilápia no Ceará

Mais de 300 pessoas vítimas de queimaduras já foram tratadas no Ceará com pele de tilápia desde que os testes em humanos foram iniciados, em 2016. Em nenhum desses pacientes houve casos de rejeição ou infecção. Os dados demonstram o sucesso do procedimento, que ainda reduz as dores nos queimados, o tempo de tratamento e os gastos nos hospitais.

Foto de uma perna coberta com pele de tilápia

Antes de serem aplicados em pessoas, os testes com pele de tilápia iniciaram, em 2015, na Universidade Federal do Ceará, onde foram cumpridas 11 etapas (chamada fase pré-clínica), para só então a pesquisa ser apresentada à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Após aprovação no Comitê de Ética e Pesquisa, a pele começou a ser usada em queimados no Instituto Dr.José Frota (IJF), sob coordenação do médico Edmar Maciel.

Com resultados sempre positivos, a utilização da pele para tratamento de pessoas vítimas de queimaduras de segundo grau superficial e profundo e terceiro grau já foi realizada em vários outros estados, superando os 500 pacientes no Brasil.

De acordo com o coordenador-geral da pesquisa, Edmar Maciel, as queimaduras são lesões graves, de difícil tratamento, prolongada internação, com graves sequelas estéticas, funcionais e psicológicas, atingindo especialmente a população mais pobre. Na rede pública brasileira, explica, os queimados, há cerca de 60 anos, são usualmente tratados com pomada antibiótica, que provoca intensa dor com as trocas diárias de curativos.

"O tratamento usual com pomada requer muitos profissionais, pois impõe banhos anestésicos para a dolorosa troca diária de curativos, o que encarece o serviço. A pele de tilápia elimina ou reduz drasticamente essas trocas", explica Maciel. Além de diminuir a dor nos pacientes, já que a pele do peixe, na maioria das vezes, não exige remoção, permanecendo na ferida até sua completa cicatrização, o novo tratamento gera uma redução de 50% nos custos de tratamento ambulatorial, informa o médico, que é também presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ).

Foto de uma mão coberta com pele de tilápia

USO EM ANIMAIS – O uso em queimaduras e feridas também vem sendo praticado na veterinária. Mais de 50 animais foram beneficiados em vários projetos e nas missões realizadas em incêndios ocorridos no Pantanal e em Uberaba. A pele da tilápia também já foi usada para esse fim em experiências no exterior. Na Califórnia, nos Estados Unidos, sob orientação do Profº Odorico de Moraes, da UFC, ela foi empregada para tratar ursos vítimas de incêndios florestais em 2018. A aplicação no tratamento de feridas já é desenvolvida em cães, gatos e cavalos.

A pele de tilápia é a primeira pele de animal aquática do mundo usada para esse tipo de tratamento e a primeira pele animal do Brasil. O novo tratamento levou à criação do primeiro banco de pele animal do País, localizado no Núcleo de Pesquisas e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), da UFC. Nele, já foram produzidas mais de 7 mil unidades de pele. A pele é elaborada para uso exclusivo da pesquisa, não sendo produzida de forma industrial e não podendo ser comercializada.

GINECOLOGIA – Os empolgantes resultados obtidos no tratamento de queimaduras levaram outros grupos de pesquisadores a recorrer à pele de tilápia para diversos tipos de tratamentos clínicos e cirurgias. Em 2018, foram iniciados os estudos na área de ginecologia, sob coordenação dos professores Leonardo Bezerra e Zenilda Bruno, ambos da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC), da UFC.

Inicialmente, a pele foi utilizada na construção do canal vaginal em mulheres portadoras da síndrome de Rokitansky, ou seja, que nasceram com o canal vaginal curto ou mesmo ausente. O resultado foi bem-sucedido, motivando o uso da pele para a cirurgia de redesignação sexual (mudança de sexo de homem para mulher).

Utilizando a pele liofilizada (desidratada) de tilápia, foi feita uma cirurgia para reconstrução vaginal pós-câncer em Campinas. O material foi usado ainda em estudos desenvolvidos e finalizados de redesignação sexual na cidade de Cali, na Colômbia, em mais de 30 pacientes. Na Universidade de São Paulo (USP), também são feitas pesquisas em reconstrução vaginal, aplicadas a pacientes que não tiveram sucesso na primeira cirurgia de redesignação sexual com outras técnicas.

Nesses procedimentos ginecológicos, a pele de tilápia já foi usada em mais de 50 pacientes.

Por Sérgio de Sousa

Fonte: Edmar Maciel, coordenador-geral da pesquisa com pele de tilápia – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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