Nota do Reitor Henry Campos: Ato de força na UFMG preocupa e gera revolta

Causou indignação, na comunidade universitária brasileira, a operação levada a cabo nessa quarta-feira, dia 6, pela Polícia Federal, na Universidade Federal de Minas Gerais. Cercada do costumeiro aparato midiático e mobilizando um espantoso número de agentes, a PF conduziu coercitivamente, para depor, o reitor Jaime Augusto Ramirez; a vice-reitora Sandra Goulart Almeida, eleita para assumir em 2018; as ex-vice-reitoras Heloísa Starling e Rocksane Norton; e Alfredo Gontijo de Oliveira, presidente da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep). O motivo seria o suposto envolvimento no desvio de recursos destinados à construção do Memorial da Anistia Política no Brasil.

Intriga todos esse ato de força, próprio dos regimes autoritários. Direitos básicos foram negados àquelas autoridades universitárias, como destaca a nota distribuída pelos ex-reitores e ex-vice-reitores da universidade mineira: "Repudiamos o uso de medida coercitiva quando nem sequer foi feita uma intimação para depoimento, em claro descumprimento ao disposto nos artigos 201, 218 e 260 do Código de Processo Penal".

Ações como essa elevam o nível de apreensão na sociedade brasileira, que assiste incrédula a repetidas ameaças à democracia e à integridade de nossas instituições. Por justa razão, o ambiente torna-se ainda mais tenso no mundo acadêmico.

Cabe, aqui, lembrar a morte recente do reitor Luiz Carlos Cancellier, da Universidade Federal de Santa Catarina, que teve prisão decretada antes de ser convocado a prestar esclarecimentos. Humilhado em mais uma "operação midiática" da PF, difamado pela imprensa, Cancellier não resistiu e suicidou-se.

É muito preocupante quando a força bruta se transforma em espetáculo e quando se pisoteiam normas fundamentais do direito. Há uma natural revolta no meio acadêmico, em que a percepção é que se pretende desmoralizar a universidade, embora sejam insondáveis os propósitos de quem inspira essa campanha.

A nação precisa refletir sobre o que acontece nos bastidores da atual "caça às bruxas". Precisa indagar-se por que aqueles agentes públicos encarregados de nos proteger e dar segurança estão agora levando cidadãos ao suicídio. Para tais investidas, há de haver um limite, que certamente precisa ser ditado pela razão e pela ponderação, pelos valores democráticos e pelo direito.

Henry de Holanda Campos
Reitor da Universidade Federal do Ceará