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Debate sobre agricultura e meio ambiente encerra Semana Nacional Universitária

Imagem: foto da mesa dos debatedores sobre modelo agrícola, recursos hídricos e meio ambiente na Semana UniversitáriaUm rico debate sobre as dimensões naturais e sociais da relação do homem com o meio ambiente encerrou as atividades da Semana Nacional Universitária, na sexta-feira (25), no auditório da Reitoria da Universidade Federal do Ceará.

Integraram o painel "Modelo agrícola, meio ambiente e preservação dos recursos naturais" os professores da UFC Jeovah Meireles, do Departamento de Geografia; Eunice Maia de Andrade, do Departamento de Engenharia Agrícola; e Francisco de Assis de Souza Filho, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental. Na mediação, esteve o Prof. André Vasconcelos Ferreira, do Departamento de Teoria Econômica. O áudio do painel está disponível on-line.

O primeiro a falar foi o Prof. Assis, que abordou o tema "Recursos hídricos em um mundo em mudança". Em sua explanação, o professor apresentou vetores que impactam o meio ambiente na atualidade: clima, economia globalizada, padrão de consumo e a quarta revolução industrial, que abrange aspectos tecnológicos.

Veja outras imagens do painel no Flickr da UFC

Para Assis, quando se pensa em água nos dias de hoje, deve-se levar em consideração esses vetores para o desenho de políticas públicas sustentáveis. "A pressão que estamos fazendo sobre os recursos naturais é extremamente importante. O homem hoje modifica o meio ambiente e, ao modificá-lo, escolhe o futuro que terá", completou.

Relacionando riscos ambientais com justiça social, Assis ressaltou que a gestão dos recursos hídricos está conectada à qualidade de vida da população, lembrando que, nesta época, há um problema relevante de abastecimento de água nas grandes cidades. "É preciso fugir da lógica de gestão de oferta e pensar a gestão da demanda. A gente tem de fazer mais com menos água", defendeu.

Imagem: Foto do Prof. Francisco de AssisTrazendo a avaliação para o Ceará, o professor classificou a questão hídrica no Estado como de risco sistêmico. "A gente tem uma marca histórica associada a impactos sociais importantes devido a essa variabilidade do clima. E uma das tarefas que a população aqui do Nordeste tem de encarar é como a gente se adapta a esses padrões de variabilidade e gerencia esse risco", preconizou.

O Prof. Jeovah Meireles trouxe ao público a questão dos conflitos ambientais nos territórios de afirmação das comunidades tradicionais, indígenas e camponesas no Ceará. Com base no conceito de justiça ambiental, o geógrafo considerou que as políticas de uso da água empreendidas pelos governos no Estado não levam em consideração as populações tradicionais.

O professor deu como exemplo a implantação do Complexo Portuário do Pecém, na qual 36 comunidades, incluindo a dos índios anacés, foram invisibilizadas. "Esse uso da água [regulado pelas políticas atuais] não leva em conta a existência de  grupos étnicos, camponeses e agricultores familiares que têm dependência direta desses sistemas ambientais estratégicos, com consequências tanto para o ecossistema quanto para o modo de vida dessas populações", analisou.

O pesquisador enumerou ainda campos de conflitos ambientais para essas regiões no Ceará, relacionados à monocultura nos manguezais e à criação de camarão, ao turismo industrial e à implantação de matrizes energéticas, com destaque para as usinas eólicas.

Imagem: Foto do prof. Jeovah MeirelesNessa perspectiva, Meireles abordou também o trabalho de cartografia social desenvolvido no Laboratório de Geoprocessamento (LABOCART) da UFC que propicia a comunidades tradicionais a elaboração, de forma participativa, de mapas das regiões onde vivem. A iniciativa já desenvolveu mais de 80 cartografias, nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Maranhão, todas elas com foco em comunidades tradicionais em disputa com grandes empreendimentos. "Uma das questões que colocamos é que a atração desses grandes capitais não gera bem-estar nem desenvolvimento social, muito pelo contrário", observou.

Compondo o debate, a Profª Eunice Maia discorreu sobre o modelo agrícola no Ceará. Ratificando a fala do Prof. Assis, a pesquisadora afirmou que "a única certeza que temos é a incerteza do nosso regime pluviométrico" e classificou como insustentável o modelo produtivo cearense. "Sempre me questiono porque a gente insiste em ter o desenvolvimento do Estado sobre o recurso escasso que é a água. Imaginar a agricultura ou a agropecuária como carro-chefe de desenvolvimento nesse semiárido, como agrônoma, eu não posso. Eu fico, às vezes, olhando nossos recursos naturais e pensando na perpetuação da pobreza e do modelo que se adota, e acho que não é ao acaso", considerou.

Imagem: Profª Eunice MaiaA pesquisadora propôs ainda o uso de outro recurso natural abundante na região como possível gerador de renda para a população sertaneja, o sol. "Qual será o rendimento que um hectare de energia solar e um hectare de milho vão dar a um pequeno produtor? O de milho vai dar R$ 2 mil, mais ou menos, colocando a saca de 60 quilos, com uma produção de 2.400 quilos, com muita boa vontade, a R$ 50,00. Um hectare de energia solar traz para esse homem R$ 114 mil por ano. A região tem esse potencial, mas provavelmente ficará nas mãos dos grandes empresários, e aí eles vão precisar desmatar para instalar as grandes áreas de painéis quando, para o pequeno produtor, bastavam as áreas já degradadas", estimou.

TROCA DE CONHECIMENTOS – A pró-reitora de Extensão e organizadora do evento, Márcia Machado, fez o encerramento. Na ocasião, salientou a importância do debate no atual contexto do País, e a relevância de universidade e sociedade estarem cada vez mais integradas nas discussões de propostas para o Brasil. "Posso dizer que assisti a todas as mesas aqui e saí com algumas convicções; primeiro, a de que esse tipo de debate a gente tem de continuar fazendo em nossa Universidade, outra é a de que temos nessa Casa grandes intelectuais que precisamos integrar mais. Há a necessidade de fazer movimentos críticos e investir em um modelo pedagógico que possa sair mais da sala de aula e ouvir a sociedade", declarou.

A Semana Nacional Universitária foi uma realização da UFC e da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil (ANDIFES), com apoio do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Ceará (ADUFC-SINDICATO), da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC) e do Instituto Dragão do Mar. O evento contou com parceria do Instituto Federal do Ceará (IFCE), da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB).

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