Estudos com pele de tilápia atingem oito países, incluindo o Brasil, e envolvem mais de 240 pesquisadores

Da Universidade Federal do Ceará para o mundo. A pele de tilápia como biomaterial para uso na medicina e em diversas outras áreas já mobilizou uma rede internacional de pesquisa. Hoje, os estudos são realizados no Brasil e em outros sete países, envolvendo 242 pesquisadores da América Latina, América do Norte e Europa.

Foto de pata de urso coberta por pele de tilápia

Com sucesso já comprovado no tratamento de queimaduras, na reconstrução de vagina e na veterinária, a pele de tilápia tem despertado a atenção de centros de pesquisa ao redor do mundo, que vêm estudando novas formas de utilização do material. Atualmente, além do Brasil, as pesquisas são realizadas na Colômbia, Argentina, Equador, Guatemala, Estados Unidos, Alemanha e Holanda.

Entre os estados brasileiros, participam dos estudos pesquisadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Goiás, Paraná, Pernambuco e Minas Gerais, além do Ceará, onde tiveram início. A pele de tilápia é objeto de estudo em trabalhos de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado em vários países do mundo, acumulando 65 projetos de pesquisa e 25 artigos científicos publicados.

Existe um coordenador de cada especialidade médica, da veterinária e da odontologia e um responsável em cada estado ou país. A coordenação pré-clínica está a cargo do Prof. Odorico Moraes; a coordenação clínica, com a Profª Elisabete Moraes, ambos da UFC; e a coordenação laboratorial, com os doutores Carlos Paier e Felipe Rocha. De acordo com o médico Edmar Maciel, que assume a coordenação-geral de todas essas pesquisas, o sucesso da pele de tilápia está em diversos fatores, mas destaca o trabalho realizado em parceria.

"A escolha da equipe e a forma horizontalizada de gestão com humanização, permitindo o crescimento de todos e reconhecendo o trabalho, o profissionalismo e a dedicação de cada um dos 242 colaboradores que se envolveram desde o início até o presente momento, são responsáveis por isso; não existe sucesso individual", considera o coordenador-geral.

No Ceará, onde está a coordenação-geral das pesquisas, destacam-se ainda estudos para o tratamento de úlceras varicosas (feridas nas pernas ocasionadas por conta da má circulação sanguínea), feitos na UFC. Também têm notoriedade as pesquisas no Estado na área da veterinária, através do tratamento de feridas em cães e cavalos. No Rio Grande do Sul, esses mesmos estudos são desenvolvidos em gatos e, na USP, os estudos foram realizados em cavalos.

Ainda em São Paulo, a pele é testada para reconstrução do forro nasal e no reparo e proteção do palato (tecido da parte superior da boca) após remoção de enxertos.

TILÁPIA NO ESPAÇO SIDERAL – No exterior, o primeiro destaque foi a utilização da pele no tratamento de ursos queimados em incêndios florestais na Califórnia, em 2018. Já em 2019, foi feita uma parceria de pesquisa com a agência espacial norte-americana, NASA, através do grupo de astronautas de Campos (RJ), na qual a pele da tilápia liofilizada (desidratada) e a matriz dérmica foram enviadas para o espaço em duas oportunidades, com o objetivo de observar o comportamento da estrutura de colágeno, para possível utilização como curativo em missões no espaço.

"A pesquisa com pele de tilápia ganhou o mundo, sendo destaque em quatro grandes seriados internacionais: The good doctor, Grey’s anatomy, The resident e Vampiros. Os veículos de comunicação divulgaram a pesquisa através de mais de 700 matérias, em 17 idiomas, em mais de 70 países", enumera Edmar Maciel.

Por Sérgio de Sousa

Fonte: Edmar Maciel, coordenador-geral da pesquisa com pele de tilápia – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.