Abertura dos EU 2020: especialista alerta para riscos da hesitação em se vacinar; quase mil pessoas assistiram ao evento virtual

A edição 2020 dos Encontros Universitários (EU) da Universidade Federal do Ceará, em formato virtual, foi aberta oficialmente na manhã desta quarta-feira (10). Na palestra de abertura ‒ intitulada "Vacinas: mitos e verdades" ‒ o médico e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, apresentou uma série de dados e fez uma ampla contextualização sobre a importância da vacinação. Ele alertou para o perigo representado pela disseminação de informações falsas, sobretudo durante a pandemia de covid-19. O evento foi assistido simultaneamente por mais de 900 pessoas.

De acordo com o especialista, um dos aspectos mais preocupantes da saúde pública mundial atualmente é a chamada hesitação vacinal. Esse problema consiste na recusa ou no atraso das pessoas em aceitarem receber as vacinas recomendadas, mesmo quando elas já estão disponíveis nos serviços de saúde.

Em linhas gerais, essa hesitação tem três fatores principais: confiança, que se relaciona à eficácia e à segurança das vacinas, incluindo também a credibilidade ou não no discurso dos governantes; complacência, que diz respeito à baixa percepção de risco de contrair a doença; e conveniência, que tem a ver com questões como acessibilidade geográfica, capacidade de compreensão e acesso à informação em saúde.

DESINFORMAÇÃO E FAKE NEWS ‒ No momento, segundo Cunha, "a desinformação e as fake news [notícias falsas, em inglês] são o que mais está atrapalhando", ou seja, é o motivo que mais tem contribuído para a hesitação vacinal, especialmente no sentido de gerar desconfiança na população. Para embasar essa constatação, ele citou uma pesquisa realizada pelo IBOPE que integra um estudo realizado pela SBIm, em parceria com a organização de pesquisa e petições on-line Avaaz. Entre outros dados, a pesquisa feita antes da pandemia de covid-19 mostrou que sete em cada 10 brasileiros acreditam em informações falsas sobre vacinação.

O especialista em imunização explicou que há uma crescente crise de confiança nas vacinas, algo percebido no mundo já há alguns anos, de acordo com estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Para isso, um ponto crucial tem sido a atuação de grupos antivacina. Com a pandemia de covid-19 e a movimentação científica que resultou nas primeiras vacinas, a movimentação desses grupo foi intensificada. Sobre isso, Cunha citou uma pesquisa indicando que, a partir do segundo semestre de 2020, houve um aumento de 60% no número de mensagens oriundas de grupos antivacina.

"Temos uma dificuldade muito grande de entrar nesses nichos, porque, em geral, o número de pessoas que acreditam [na vacina], que confiam, que acham importante, com certeza é muito maior. O número de indivíduos antivacina é menor, mas eles conseguem ter uma penetração muito importante nos seus clusters, nos seus grupos", aponta.

Um exemplo prático de como a atuação dos grupos antivacina pode ser prejudicial à saúde pública mundial, de acordo com Cunha, é o do sarampo. Em 2016, a doença chegou a ser considerada pelos órgãos de saúde como erradicada nas Américas. Porém, ela retornou em 2018, e em 2019 houve um grande aumento de casos. O Brasil enfrenta um surto de sarampo desde 2018. Em 2020, foram 8,4 mil casos registrados no País.

Imagem: tela com convidados da palestra de abertura do evento

MITOS E VERDADES ‒ Na sequência, Cunha abordou especificamente os "mitos e verdades" relacionados à vacinação. Respaldando-se em pesquisas amplamente reconhecidas pela comunidade científica, o especialista mostrou que são "mitos", por exemplo, informações de que a vacina contra o HPV induziria a sexualidade precoce entre adolescentes e de que seria melhor pegar determinadas doenças a fim de que o corpo desenvolvesse anticorpos, estando então protegido sem a necessidade de vacinas e evitando gastos com imunizantes. "As doenças custam muito mais caro do que as vacinas", resumiu. A íntegra da palestra está disponível no canal dos EU no YouTube e a parte sobre "mitos e verdades" tem início aos 20 minutos e 27 segundos do vídeo.

Sobre a covid-19, Cunha mostrou, também amparado em pesquisas, que não é verdade que uma pessoa que já teve a doença está imune, sobretudo porque variações do vírus continuam surgindo. É possível, segundo ele, que alterações na composição das vacinas precisem ser feitas ao longo dos próximos meses e anos a fim de lidar de forma mais adequada com essas variantes. Contudo, estudos sobre isso ainda estão sendo feitos.

Outra falsa ideia rechaçada pelo especialista foi a de que alguns medicamentos são eficazes no tratamento precoce de covid-19. "Cloroquina e ivermectina não são alternativas [à vacinação], não são recomendadas e não têm embasamento científico como tratamento precoce", assegurou.

A palestra teve como moderadores os professores da UFC Anastácio Queiroz, do Departamento de Medicina Clínica, e Robério Leite, do Departamento de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente.

Imagem: tela de apresentação trazida pelo Prof. Juarez Cunha

Ouça também matéria produzida pela rádio Universitária FM sobre a palestra de abertura do evento

INÍCIO DOS ENCONTROS UNIVERSITÁRIOS ‒ No discurso que antecedeu a palestra magna, a pró-reitora de Extensão da UFC, Profª Elizabeth Daher, abriu oficialmente a edição 2020 dos Encontros Universitários, este ano organizados pela Pró-Reitoria de Extensão (PREX).

Segundo Elizabeth Daher, o evento representa "o momento em que a Instituição pode mostrar para a comunidade acadêmica e para toda a sociedade a multiplicidade de sua rica produção cultural, científica e tecnológica". Para ela, as grandes novidades deste ano são a unificação do cronograma e da plataforma dos EU entre todos os campi da Universidade. A pró-reitora destacou ainda os esforços para realizar o evento com excelência, mesmo no contexto adverso provocado pela pandemia. "Estamos aqui para falar de pulsão de vida. Precisamos mais do que nunca de união para nos reinventarmos e colocar em prática nossa ousadia e potência criadora."

NOVO MUNDO ‒ O reitor Cândido Albuquerque ressaltou que há cerca de um ano, no Brasil, a pandemia de covid-19 apresentou à sociedade um mundo novo, perigoso, desconhecido e assustador. Por isso, foram necessárias medidas igualmente novas para lidar com o problema. Na UFC, isso se deu por meio da capacitação de toda a comunidade acadêmica para se adequar ao novo contexto, bem como em um amplo programa de assistência estudantil e inclusão digital, entre outras várias ações. "Criamos um mundo novo na UFC. Todas as medidas necessárias foram implementadas, graças à união e determinação de toda a comunidade acadêmica", disse, ressaltando que a manutenção das atividades acadêmicas a distância foi fundamental também para a saúde mental da comunidade, no sentido de se manter produtiva e com foco nas atividades diárias.

Ouça também matéria produzida pela rádio Universitária FM sobre a abertura do evento

Os Encontros Universitários 2020 seguem até a próxima sexta-feira (12). Os detalhes de todas as atividades podem ser vistos na programação completa do evento.

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Fonte: Comissão Executiva dos Encontros Universitários 2020 ‒ e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.