UFC e FIOCRUZ pesquisam sobre impacto da covid-19 na saúde mental de mais de 1.400 trabalhadores da área da saúde no Ceará

A Universidade Federal do Ceará, através da Faculdade de Medicina (FAMED), e a Fundação Oswaldo Cruz no Ceará (FIOCRUZ-CE) se unem na realização de uma pesquisa inédita com o objetivo de avaliar o impacto da covid-19 na saúde mental de trabalhadores de hospitais e centros de saúde da rede pública do Estado do Ceará. O projeto, iniciado em setembro de 2021 com previsão de término em agosto deste ano, envolve 1.476 profissionais da linha de frente (médicos, enfermeiros, técnicos e assistentes de enfermagem) e os da segunda linha (recepcionistas, equipe laboratorial, assistentes administrativos, pessoal de recursos humanos etc.).

Os trabalhadores pesquisados são do Hospital Geral César Cals (HGCC), Hospital de Saúde Mental de Messejana (HSSM), Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), sediados na capital, e Hemorrede do Ceará (HEMOCE), que engloba grandes municípios do Ceará (Fortaleza, Crato, Juazeiro do Norte, Sobral, Iguatu e Quixadá).

Imagem: O estudo avalia o impacto da covid-19 na saúde mental de trabalhadores de hospitais e centros de saúde da rede pública do Ceará (Foto: Freepik)

“Através da realização da pesquisa, objetivamos avançar no entendimento dos impactos da pandemia na saúde mental de profissionais da linha de frente e segunda linha, além de compreender importantes diferenças existentes entre os quatro centros de saúde no tocante ao serviço prestado ao Sistema Único de Saúde (SUS) em diferentes propósitos: doenças infeciosas (HSJ); doenças mentais (HSMM); hospital terciário de alta complexidade (HGCC); assistência à política do sangue (HEMOCE)” informa a professora e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) e vice-diretora da FAMED, Danielle Macêdo Gaspar. Ela lidera a equipe do estudo com o pesquisador do Laboratório de Competências Moleculares e Epidemiológicas (ACME) e coordenador da Rede Genômica da FIOCRUZ-CE, Fábio Miyajima.

FASES – Com três fases previstas, o estudo já tem consolidados resultados das duas fases iniciais – a primeira realizada em setembro e outubro de 2021 e a segunda em março e abril de 2022. As informações foram coletadas com 1.476 participantes que responderam a questionários. De acordo com o relatório elaborado, os dados “demonstram que os impactos da pandemia têm sido mais significativos que o esperado. As consequências parecem ser piores para os profissionais da linha de frente em comparação com os da segunda linha”.

Outros achados nessas duas fases revelam que as implicações da covid foram maiores nas trabalhadoras do sexo feminino, das quais mais de 30% apresentaram sintomas de depressão e ansiedade na primeira fase do estudo, número elevado para 37% na fase 2. Entre os participantes do sexo masculino, 24% apresentaram algum tipo de sofrimento mental na fase 1, proporção mantida também na fase 2 (23%).

Constam como sintomas mais relatados níveis alterados de estresse ou inquietação (“sentir-se nervoso(a), tenso(a) ou preocupado(a)”), sendo 52% presentes no sexo feminino e 38% no masculino; tristeza (“sentir-se triste”, 35% no sexo feminino e 20% no sexo masculino); insônia (“dormir mal”, 42% no sexo feminino e 38% no sexo masculino); e cansaço excessivo (“sentir-se cansado(a) o tempo todo, 40% nas mulheres e 21% nos homens).

Em relação ao consumo de álcool durante os períodos avaliados na pandemia, os dados da pesquisa mostram não haver alterações significativas, talvez, segundo os pesquisadores, refletindo o fato de esses profissionais apresentarem baixo índice de permanência domiciliar devido à natureza de seus trabalhos.

Ainda de acordo com o relatório, “quando perguntados sobre o engajamento em hábitos saudáveis, como atividade física, meditação, recreação ativa (sair com amigos ou família, realizar atividades que considere divertidas), bem como tratamento psicológico, na primeira fase do estudo os participantes que estavam em tratamento psicológico manifestaram menor incidência dos sintomas, enquanto o efeito protetor de mecanismos de resiliência e da prática de atividades de recreação ativa foram mais evidentes na segunda fase, período que coincidiu com a retomada de práticas esportivas e menor restrição de atividades sociais”.

A próxima etapa do projeto, a ocorrer em março e abril deste ano, será investigar a presença e persistência de biomarcadores inflamatórios, genéticos e prováveis alterações imunoinflamatórias associadas com os impactos da covid-19, inclusive sintomas do que se reconhece atualmente como síndrome da covid longa. “Procuramos também associar biomarcadores inflamatórios periféricos a essas alterações comportamentais com o intuito de entender melhor os mecanismos subjacentes a essas alterações e subsidiar o desenvolvimento de tratamentos”, adianta Danielle.

EQUIPE – O projeto intitulado, oficialmente, Impacto e consequências da covid-19 em trabalhadores de saúde do Estado do Ceará: uma avaliação integrada clínico-psiquiátrica e molecular da saúde do trabalhador, conduzido pela Profª Danielle Macêdo Gaspar (UFC) e Fábio Miyajima (FIOCRUZ), conta com uma grande equipe multidisciplinar.

O estudo é financiado com recursos do Edital nº 01/2020 Programa Inova FIOCRUZ-CE/Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP) e Edital nº 03/2020 FUNCAP – Programa de Pós-Doutorado para Jovens Doutores.

De acordo com a Profª Danielle Macêdo, como são muitos dados a serem analisados, a equipe é composta de pesquisadores da UFC e FIOCRUZ, profissionais de saúde dos centros participantes, incluindo psiquiatras e psicólogos, estatísticos e epidemiologistas. Além disso, um trabalho dessa magnitude permite a participação de muitos alunos de pós-graduação da Universidade.

Assim, as duas fases do estudo com dados já consolidados servirão de base para a dissertação de mestrado com mesmo título do projeto Impacto e consequências da covid-19 em trabalhadores de saúde do Estado do Ceará: uma avaliação integrada clínico-psiquiátrica e molecular da saúde do trabalhador, de autoria de Nayana Holanda de Oliveira, médica psiquiatra, diretora técnica do Hospital de Saúde Mental de Messejana e aluna do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia da FAMED.

O projeto, acrescenta Danielle, conta também com a colaboração de duas pesquisadores que cumprem estágio de pós-doutorado na FAMED: Deniele Bezerra, com bolsa da FUNCAP; e Natália Grindi Fortaleza, vinculada ao Laboratório de Neuropsicofarmacologia do NPDM como voluntária.

Fonte: Profª Danielle Macêdo Gaspar, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) e vice-diretora da FAMED – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.