UFC participou de testes de vacina contra chikungunya aprovada pela ANVISA
- Segunda, 28 Abril 2025 16:50
- Escrito por UFC Informa
Foi aprovado neste mês de abril, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o registro definitivo da primeira vacina contra a chikungunya, desenvolvida no Instituto Butantan, em parceria com a farmacêutica franco-austríaca Valneva, e que contou com a participação da Universidade Federal do Ceará (UFC). Com o parecer favorável, o imunizante está autorizado a ser aplicado no país, em dose única, na população de 18 a 65 anos.
O imunizante já havia recebido aprovação da Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, após avaliação em 4 mil voluntários nesta faixa etária. Dos participantes do ensaio clínico, 98,9% produziram anticorpos neutralizantes, com níveis que se mantiveram robustos por ao menos seis meses. Os resultados foram publicados na revista científica The Lancet, em setembro do ano passado. A European Medicines Agency (EMA), da União Europeia, também aprovou o imunizante.
Esta é a primeira vacina autorizada contra a chikungunya, doença viral transmitida por meio da picada de mosquitos Aedes aegypti infectados – os mesmos que transmitem dengue e zika. No Brasil, durante o ano de 2024 foram registrados mais de 265 mil casos prováveis da doença e pelo menos 243 mortes, de acordo com o Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde. Atualmente, todos os estados brasileiros registram transmissão do vírus, sendo Minas Gerais, Mato Grosso e Espírito Santo aqueles com maior incidência na população.
Em mais de 50% dos casos, os pacientes desenvolvem dor crônica nas articulações (quando os sintomas persistem por mais de 90 dias após o início). Além disso, o vírus pode causar desregulação em várias outras enfermidades preexistentes: Alzheimer, diabetes, doenças reumáticas e respiratórias. “Estima-se que em cerca de 10% dos casos haja repercussão para o resto da vida”, destaca o infectologista Ivo Castelo Branco Coelho, professor da Faculdade de Medicina (FAMED) e coordenador do Núcleo de Medicina Tropical da UFC, que participou da fase III de acompanhamento de testes do imunizante.
Os testes dessa fase, a última no processo de validação científica, foram realizados de fevereiro de 2022 a março de 2023 em diferentes regiões do Brasil. Foram submetidos à testagem 750 adolescentes, com idades de 12 a 17 anos, sendo cerca de 150 deles no Núcleo de Medicina Tropical da UFC. Inicialmente aprovada para maiores de 18 anos, já está em curso a ampliação da aplicação para esta faixa etária assim que houver a autorização da ANVISA.
“A vacina mostrou-se eficaz e segura, com poucas contraindicações e efeitos colaterais ínfimos, comuns a qualquer vacina, como dor de cabeça e no local da aplicação”, diz o pesquisador. A vacina é contraindicada para mulheres grávidas, pessoas imunodeficientes ou imunossuprimidas. Ele explica que a incidência da doença no país demanda a expansão de aplicação, diferentemente dos Estados Unidos, onde o imunizante tem como público-alvo adultos que viajam para outros países.
Para chegar ao braço do brasileiro, a vacina passará ainda pelas etapas de precificação e incorporação ao sistema público de saúde. Em nota, o Ministério da Saúde informou que o pedido de incorporação será encaminhado à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) “para adoção das medidas imediatas necessárias para dar seguimento à avaliação da oferta do novo imunizante na rede pública de saúde”. Com isso, ela poderá ser incluída no Programa Nacional de Imunizações (PNI).
COMO FUNCIONA A VACINA – A vacina utiliza a consolidada tecnologia de vírus atenuado, em que os agentes infecciosos passam por um processo no qual sua virulência é reduzida a níveis considerados seguros para a aplicação clínica. Eles mantêm suas características, mas apresentam uma baixa capacidade de replicação. A resposta imunológica, no entanto, é semelhante à que teria frente ao vírus circulante que provoca a doença.
Fonte: Ivo Castelo Branco Coelho, coordenador do Núcleo de Medicina Tropical da UFC – fone: (85) 3366.8252