- Quarta, 07 Mai 2025 09:05
- Escrito por UFC Informa
Uma equipe de pesquisadores do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da Universidade Federal do Ceará (UFC) tem investigado o uso de nanotecnologia para o combate a uma das zoonoses mais preocupantes do estado: a leishmaniose. Os cientistas desenvolveram formulação com nanopartículas contendo uma substância da classe dos nitrosilo complexos de rutênio, que pode potencializar o tratamento da doença, resultando em menos efeitos colaterais nos pacientes. A tecnologia vem sendo estudada desde 2020 e recebeu carta-patente do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Com base em estudos anteriores que mostraram a eficácia, em modelos animais, do complexo de rutênio contra o protozoário da leishmaniose, a equipe da UFC elaborou uma fórmula com menor capacidade de gerar reações adversas e com potencial para uso oral e tópico (na pele).
“A principal inovação de nossa nanoformulação é proporcionar uma alternativa terapêutica com menor toxicidade, maior versatilidade e liberação lenta do princípio ativo, permitindo intervalos maiores entre as doses. Em nossos estudos preliminares, o complexo de rutênio não demonstrou toxicidade, e, atualmente, estamos avaliando com nossos colaboradores científicos seu impacto nas funções hepática, cardíaca e renal para atestar sua segurança”, explica o professor Eduardo Sousa, que assina como inventor principal da patente.
A pesquisa sobre a formulação está na fase pré-clínica e segue com estudos quanto à sua eficácia sob a coordenação do professor Nilberto Nascimento, da Universidade Estadual do Ceará (UECE). A previsão é que a próxima etapa de análise seja realizada até o início de 2026, com a testagem em cães infectados. Caso demonstre bons resultados nesse momento da pesquisa, o composto poderá ser avaliado também para fins veterinários. “Com os testes em cães naturalmente infectados, teremos a oportunidade de avaliar a atividade do composto contra a espécie Leishmania infantum, responsável pela forma visceral da leishmaniose no Brasil – a manifestação clínica mais letal da doença, caracterizada por hepato e esplenomegalia (aumento do fígado e do baço), podendo evoluir, nos casos mais graves, para hemorragias e insuficiências renal e hepática”, detalha Sousa.
O estudo é resultado da dissertação de mestrado de Antônio Caian Rodrigues, que atualmente cursa doutorado no Programa de Pós-Graduação em Química da UFC. Colaboraram ainda com o desenvolvimento da patente os pesquisadores Luiz Gonzaga de França Lopes, Judith Pessoa de Andrade Feitosa e Ana Cláudia Silva Gondim.
As evidências científicas de que o composto baseado em rutênio tinha atividade in vitro antileishmaniose foram coletadas em parceria com a professora Jânia Teixeira, do Departamento de Patologia da UFC, com os pesquisadores Kátia Calabrese e Fernando Almeida-Souza, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-Rio), e com o professor Nilberto Nascimento, da UECE.
Na avaliação da Organização Mundial de Saúde (OMS), a leishmaniose é uma das principais doenças negligenciadas do planeta. Atualmente, mais de 1 bilhão de pessoas vivem em áreas endêmicas para a infecção, e estima-se que, no mundo, cerca de 30 mil casos da forma visceral e 1 milhão de casos da forma tegumentar ocorram todos os anos.
Mais informações estão disponíveis na matéria completa da Agência UFC, veículo de divulgação científica da Universidade.
Fontes: Eduardo Sousa, professor do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da UFC – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. / Antônio Caian, doutorando no Programa de Pós-Graduação em Química da UFC – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.