Cepas desenvolve tecnologia de inteligência artificial para planejamentos climáticos, já em uso pela Agência Nacional de Águas (ANA)
- Segunda, 12 Mai 2025 11:39
- Escrito por UFC Informa
Com recursos hídricos abundantes e grande variabilidade climática, o Brasil tem encontrado na inteligência artificial (IA) uma aliada no enfrentamento de desafios regionais. Uma iniciativa inovadora, já em uso pela Agência Nacional de Águas e Saneamento de Bacias Hidrográficas (ANA), foi desenvolvida pelo Centro Estratégico de Excelência em Políticas Hídricas e de Secas (Cepas), da Universidade Federal do Ceará (UFC).
O Cepas foi convidado para aplicar no Brasil o Water Resilience Tracker (WRT) 2.0, uma ferramenta e guia de diagnóstico, com apoio financeiro do Foreign, Commonwealth & Development Office (FCDO) do Reino Unido, que ajuda governos a autoavaliar e aprimorar a resiliência hídrica em seus planejamentos climáticos nacionais. “A inovação é que colocamos a IA como um complemento à metodologia já existente”, conta Carla Beatriz Costa de Araújo, professora do Departamento de Geologia da UFC e integrante do Conselho Gestor do Cepas.
O WRT possui uma metodologia desenvolvida por diversos consultores e já é aplicada em outros países. No entanto, uma de suas etapas consumia muito tempo e exigia comunicação contínua entre especialistas: a análise de documentos de várias áreas. “A gente tinha documentos muito extensos para analisar, alguns deles com 400 páginas, para serem respondidas 53 questões, então é um volume de trabalho muito pesado”, comenta.
Ao adotar uma abordagem que combina IA com expertise humana, a equipe de consultoria do Cepas agilizou o processo, reduzindo ineficiências e melhorando a precisão na avaliação de políticas climáticas. Segundo ela, após ser bem aceita, tanto pela ANA quanto pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que apoia regionalmente o WRT, a expectativa é que a metodologia seja aplicada em outros países.
APLICAÇÃO – Primeiro, a equipe do Cepas aplicou ao WRT uma ferramenta de processamento de linguagem natural que processa grandes quantidades de documentos. Documentos sobre as políticas foram inseridos no sistema de IA, que então analisou o texto e forneceu respostas a respeito do conteúdo, se continha evidências suficientes para responder a perguntas-chave sobre o assunto.
Em um segundo estágio, esse processo foi testado e verificado duas vezes, por analistas diferentes, que revisaram as respostas geradas, corrigindo e ajustando evidências e classificações.
Os resultados sintetizados identificaram pontos fortes e necessidades de melhoria nas políticas climáticas nacionais em áreas críticas. A IA sinalizou, por exemplo, lacunas em estruturas legais e institucionais em relação à área de Água em Planejamento e Governança Nacionais, destacando a necessidade de mecanismos mais flexíveis para se adaptar às evidências climáticas em evolução. O WRT recomendou maior inclusão da sociedade civil, empresas e governos locais para fortalecer a implementação de políticas.
WRT 2.0 – O WRT 2.0 no Brasil começou em março com um workshop realizado em Brasília com a ANA, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e os membros do consórcio WRT 2.0 da Alliance for Global Water Adaptation (AGWA) e do International Water Management Institute (IWMI). O workshop foi baseado nos sucessos do WRT 1.0 no país, com foco em como o WRT pode ser aplicado em contextos específicos, como em planos de gestão de bacias, e integrado a uma gama mais ampla de instrumentos de política.
A fase WRT 1.0 orientou a ANA por 53 questões abrangendo quatro áreas críticas: Água em Planos Climáticos Nacionais, Água em Planejamento e Governança Nacionais, Conexões Água-Clima em Setores Específicos e Vínculos com Financiamento Climático e Implementação de Projetos.
Fonte: Centro Estratégico de Excelência em Políticas de Águas e Secas (Cepas) da UFC – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.