Pesquisa da UFC que utiliza nanotecnologia para combater câncer de próstata é finalista do Prêmio Octavio Frias de Oliveira

Pela terceira vez, uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC) está na final do Prêmio Octavio Frias de Oliveira, promovido pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) para reconhecer estudos que avancem no combate ao câncer. A UFC é a única instituição finalista que não está localizada no eixo Rio-São Paulo.

Em sua 16ª edição, o prêmio anunciou seis trabalhos que trazem novas perspectivas no campo da oncologia por meio de terapias, tecnologias e descobertas genéticas. A pesquisa da UFC, intitulada “Integração da química verde à nanotecnologia médica: uma nova perspectiva para o tratamento do câncer”, concorre na categoria Inovação Tecnológica com outros dois estudos, ambos de instituições paulistas.

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Para a professora Cláudia do Ó Pessoa, do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da UFC e uma das autoras do estudo, o anúncio reafirma o potencial inovador das pesquisas desenvolvidas na instituição cearense. “Esse resultado nos posiciona como um dos protagonistas na promoção da inovação em oncologia, com foco no desenvolvimento de novos IFAs (Ingredientes Farmacêuticos Ativos) inspirados na biodiversidade. Nosso trabalho é guiado pelo compromisso com a biosustentabilidade e a bioeconomia, pilares fundamentais para uma inovação responsável e transformadora”, destaca.

Os pesquisadores da UFC desenvolveram uma nova tecnologia que utiliza um composto extraído da planta Platymiscium floribundum, conhecida pelos nomes populares de sacambu e jacarandá-do-litoral, que possui ação antitumoral, e o combina a uma formulação inovadora baseada em nanotecnologia.

De acordo com Cláudia do Ó Pessoa, a pesquisa teve início com estudos preliminares de prospecção de moléculas com potencial anticâncer, originadas da biodiversidade da Caatinga, cujos primeiros achados datam de 2005. A partir de 2015, o trabalho avançou para uma nova fase, marcada por desafios mais complexos, conforme a professora. Esta etapa foi conduzida como parte da tese de doutorado de José Brito Neto, desenvolvida no Laboratório de Oncologia Experimental (LOE) do Núcleo de Pesquisas e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da UFC, em parceria com o Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais Walter Mors, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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“O foco dessa etapa foi transformar o conhecimento sobre compostos naturais em soluções terapêuticas viáveis, por meio de rotas de síntese sustentáveis (ecofriendly) e da aplicação de abordagens nanotecnológicas inovadoras. Entre essas estratégias, destaca-se o uso de imunolipossomas, com o objetivo de promover a liberação direcionada dos compostos para o combate às células tumorais da próstata”, explica a professora, que também coordena o LOE/NPDM/UFC.

Uma fase anterior do estudo foi tema de reportagem de 2019 da Agência UFC, que destacava o potencial da biodiversidade brasileira para o desenvolvimento de novos tratamentos anticâncer.

Cláudia do Ó Pessoa informa que a principal inovação da atual fase do estudo está na proposta de uma rota de síntese mais eficiente da molécula bioativa: utilizando menos solventes orgânicos, com menor número de etapas, maior rendimento e menor custo de produção. “Além disso, a pesquisa avançou significativamente na área de tecnologia farmacêutica, com o objetivo de promover uma entrega mais eficaz do composto diretamente no local de ação do tumor de próstata, visando reduzir efeitos colaterais e aumentar a eficácia terapêutica”, esclarece.

“Esse avanço é fruto de um esforço colaborativo interinstitucional e intra-institucional, envolvendo o grupo de pesquisa do professor Josimar Eloy e da professora Maria da Conceição de Oliveira Ferreira (ambos da UFC), o grupo do professor Paulo Costa Ribeiro (UFRJ), além das nossas investigações contínuas na área de oncologia experimental”, reforça.

A pesquisa está, no momento, na fase pré-clínica, com testes em células. Em seguida, serão realizados os estudos em animais para avaliar segurança, absorção e eficácia antes dos testes em humanos. “Os avanços nos estudos com modelos animais estão sendo viabilizados paralelamente ao progresso no scale-up e à modernização da infraestrutura laboratorial, com foco na implementação de Boas Práticas de Laboratório (BPL) no Biotério do NPDM. Esse fortalecimento ganhará novo impulso com a aprovação do projeto 'INCT Bio2 – Biodescoberta Translacional e Biomodelos' (CNPq), iniciativa essencial para consolidar a base pré-clínica da pesquisa translacional”, acrescenta a professora.

Além de Cláudia do Ó Pessoa e José Brito Neto, também assinam como autores do estudo os pesquisadores: Maria da Conceição Ferreira de Oliveira, Celina de Jesus Guimarães, Carlos Roberto Koscky Paier, Cristiana Libardi Miranda Furtado, Josimar de Oliveira Eloy, Paulo Roberto Ribeiro Costa, Guilherme da Silva Caleffi e Juliane da Silva Falcão.

O PRÊMIO – A premiação ocorrerá no dia 5 de agosto, no auditório do ICESP, em São Paulo. O prêmio é realizado com a parceria da Folha de S. Paulo e, desde 2010, estimula a produção de conhecimento sobre prevenção e combate ao câncer através da homenagem a Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha de S. Paulo de 1962 a 2007, ano da sua morte. Os premiados em cada categoria receberão R$ 20 mil cada um, além de certificado.

UFC JÁ FOI VENCEDORA – Esta é a terceira vez que a UFC é finalista do prêmio. Em 2021, um estudo desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Farmacologia da Inflamação e do Câncer (LAFICA), da Faculdade de Medicina da UFC, venceu a 12ª edição do prêmio, na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia. A pesquisa desenvolveu uma nova técnica para diagnóstico precoce do câncer colorretal por meio de microRNAs presentes no sangue humano. 

Antes, em 2019, uma pesquisa desenvolvida pelo grupo da professora Cláudia do Ó Pessoa também foi para a final do prêmio. A pesquisa finalista se baseava no estudo da substância denominada beta-lapachona, com potencial para tratamento de câncer de próstata, extraída do ipê-roxo, árvore comumente encontrada no Brasil.

Fonte: Cláudia do Ó Pessoa, do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da UFC – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.