A Universidade e a cota da responsabilidade

No conjunto das universidades brasileiras, a UFC se destaca com o terceiro maior orçamento dedicado à Assistência Estudantil. Nos últimos anos, elevamos o número de bolsas de Iniciação Acadêmica e de refeições no Restaurante Universitário, que inaugurou o horário noturno; construímos uma nova Residência, com 190 vagas, no Pici; alcançamos o segundo lugar do Brasil em projetos aprovados para o Programa Jovens Talentos para a Ciência e, até o fim do ano, teremos enviado cerca de 300 estudantes para o exterior, através do Ciência sem Fronteiras. Também nos tornamos a universidade brasileira que mais recebe estudantes africanos. Ou seja, colocamos o aluno, de fato, em primeiro plano e o fazemos de maneira responsável, a partir de recursos orçamentários garantidos pelo nosso mantenedor, o Governo federal.

Agora, essa política de Assistência Estudantil encara um novo cenário, criado pela adoção das cotas sociais e raciais. Confiantes, nos preparamos para cumprir a determinação do Ministério da Educação de agregar ao quadro discente, através de critérios diferenciados, jovens oriundos das camadas mais pobres da população. Estamos mesmo dispostos a antecipar prazos para cumprimento das metas estabelecidas. Mas não abrimos mão de trabalhar dentro dos parâmetros da responsabilidade.

Entenda-se que a nova Lei foi aprovada depois que o Orçamento da União já estava fechado. Não há recursos para garantir, aos beneficiários das cotas, o tratamento adequado que costumamos oferecer aos alunos. Eles irão necessitar de bolsas de estudo, refeições diárias e vagas nas residências ou auxílio-moradia. O orçamento das Instituições Federais de Ensino Superior, para 2013, não contempla essa nova realidade. Assim, para o próximo ano, não ousaríamos reservar mais que 12,5% por cento das vagas de cada curso de graduação para as cotas sociais e raciais.

Lamentavelmente, a intolerância bateu à porta da Universidade, nessa terça-feira, 30 de outubro, quando alunos do Ensino Médio, irresponsavelmente liderados, vandalizaram o prédio da Reitoria, protagonizando um triste espetáculo de anticidadania, a pretexto de defender a absorção imediata de um número maior de cotistas. Despreparados para ingressar na Universidade pública de qualidade, depredaram um patrimônio da sociedade, furtaram documentos e bens móveis, constrangeram servidores.

Quero deixar claro, para a sociedade, que o deplorável espetáculo nem nos intimida nem nos demove do propósito de conduzir a Universidade com seriedade e com responsabilidade. Permanecemos abertos ao diálogo e defendemos, com toda convicção, a tradição democrática da Instituição acadêmica. Mas não permitiremos que ela se transforme em teatro da baderna.

Jesualdo Pereira Farias
Reitor da UFC

Veja imagens da depredação da Reitoria da UFC.