Primeiras pesquisadoras da UFC são homenageadas por trabalho pioneiro
- Sexta, 29 Abril 2016 14:46
- Última Atualização: Segunda, 02 Mai 2016 14:27
O Conselho Universitário (Consuni) aprovou, nesta sexta-feira (29), homenagem a duas pesquisadoras que contribuíram com o legado científico da UFC. A professora aposentada Maria da Guia Silva Lima, que atuava no Departamento de Bioquímica, receberá o título de Professora Emérita. Já a Profª Iracema Lima Ainouz (in memoriam), formada na Escola de Agronomia e primeira mulher pesquisadora da Instituição, emprestará nome ao Auditório do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular do Centro de Ciências.
Maria da Guia Silva Lima ingressou como estudante na Faculdade de Medicina em 1954, ano de criação da UFC. Oito anos mais tarde, em 1962, após estágio de um ano na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, regressou à Universidade como professora, onde lecionaria por 42 anos, até 2004. Ao longo das cinco décadas de pesquisa, a docente abraçou duas áreas principais: bioenergética e imunologia.
Ao assumir o cargo de professora da UFC, Maria da Guia viajou novamente à capital fluminense, desta vez para o Instituto Oswaldo Cruz, onde pesquisou por três anos. "Dediquei-me exclusivamente à ciência, trabalhei o mecanismo da reação anafilática, que é o mecanismo da reação alérgica", explica, acrescentando que era orientada pelo Prof. Haity Moussatché. O resultado do trabalho chegou a ser divulgado em publicações internacionais, como a revista estadunidense Life.
Em 1966, a já professora da UFC Maria da Guia licenciou-se para desenvolver pesquisa na França. O clima de insegurança política no Brasil, por conta do regime militar, e o interesse pela linha de pesquisa do Centro de Energia Nuclear da Université de Grenoble fizeram-na optar pelo exílio temporário. "Ficávamos extremamente tensos quando, frequentemente, eles (pesquisadores com quem trabalhava no Instituto Oswaldo Cruz) eram convocados a inquéritos pelo Exército", relembra. Retornou ao País em 1968, com o título de doutora em Bioquímica pela universidade francesa.
O contato com a França abriria portas para futuros intercâmbios entre os dois países nas gerações seguintes, com a criação do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica da UFC, iniciativa da qual a Profª Maria da Guia também participaria, ao lado de outros pesquisadores, entre os quais Iracema Lima Ainouz.
Maria da Guia Silva Lima iniciou a trajetória empreendendo pesquisas em animais. No entanto, foi convencida a interromper o projeto porque à época ainda não havia sustentabilidade para bancar a iniciativa. Concentrou-se, então, em estudos de origem vegetal até que, em 1992, criou o primeiro Biotério (viveiro para conservar animais a serem utilizados em pesquisas) das regiões Norte e Nordeste.
A Profª Maria da Guia relembra o episódio, do ano de criação do Biotério, em que teve de embarcar da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em voo comercial da empresa Varig, quase duas dezenas de casais de camundongos que integrariam o viveiro da UFC. "Quando chegaram os camundongos de Campinas, foi a maior dificuldade para eu provar que eles não eram passageiros comuns", recorda, explicando que os animais tiveram de ser importados porque precisavam ser geneticamente determinados.
A professora também foi a primeira mulher a ocupar o cargo de titular (tendo sido votada para a vaga) no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE). Foi chefe do Departamento de Bioquímica por três mandatos e diretora do Biotério da UFC. Nos laboratórios da Universidade, a docente teve a oportunidade de trabalhar com a Profª Iracema Lima Ainouz, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular do Centro de Ciências, primeira mulher pesquisadora da UFC. Essa docente ingressou como professora da então Escola de Agronomia em 1954, mesmo ano que Maria da Guia chegaria à Universidade como estudante. "Ela foi a primeira mulher realmente pesquisadora e chegou a receber uma bolsa para estudar nos Estados Unidos", diz Maria da Guia, referindo-se ao período em que a colega estudou na Universidade de Madison, em Wisconsin, e na Universidade de Boulder, no Colorado.
A pesquisadora estagiou no Instituto de Antibióticos em Recife, ainda nos anos 1950, para estudar a sistemática de fungos. Na volta a Fortaleza, trabalhou com o Prof. Manoel Matheus Ventura, no Instituto de Química da Escola de Agronomia. Posteriormente, participou da criação do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, do qual seria chefe, e foi uma das entusiastas da Pós-Graduação em Bioquímica, onde se especializou na linha de pesquisa "Proteínas Vegetais". Iracema Lima Ainouz faleceu em novembro de 2015.
HOMENAGENS NO CONSUNI – Durante a votação no Consuni, vários conselheiros destacaram a importância das duas pesquisadoras para a Universidade. Alguns, como o Pró-Reitor de Assuntos Estudantis, Prof. Manoel Furtado, foram alunos da Profª Maria da Guia e lembraram de episódios da vida da pesquisadora, sempre disposta a lutar por mais recursos para a Universidade ou para garantir a excelência acadêmica da Instituição. "Trata-se de uma pesquisadora brilhante que deu grande contribuição a esta Universidade", lembrou o Reitor Henry Campos.
O Prof. Lindberg Gonçalves, Diretor do Campus da UFC em Russas, trabalhou com a Profª Iracema Ainouz. "Tinha a mesma competência da Profª Maria da Guia e deu uma contribuição notável para o desenvolvimento da pesquisa e pós-graduação da UFC", disse.
Fonte: Conselho Universitário – fone: 85 3366 7340