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COVID-19: como saber se uma informação é confiável?

A batalha contra o novo coronavírus é também uma guerra contra a desinformação ou contra a informação distorcida. Nesta segunda entrevista da série UFC Talks,  sobre os efeitos da pandemia da COVID-19, o Prof. Ricardo Jorge Lucas, do Curso de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará, fala da importância de checar a procedência da informação e dá dicas de checagem para o cidadão comum. “Na ideia atual de que tudo tem de ser rápido, parar para pensar se vale a pena repassar uma informação falsa ou distorcida é algo bastante sensato”. 

O professor defende que é preciso definir uma rotina na leitura de notícias como forma de garantir o equilíbrio entre o consumo de informação e o bem-estar mental. “Se possível, por exemplo, definir em quais horários do dia podemos ter acesso às notícias. O mundo não se tornará diferente, melhor ou pior se você diminuir o consumo de informações”. A seguir, confira a conversa.

Frase do professor Ricardo Jorge

ufc{talks}  – Temos acompanhado uma quantidade muito grande de notícias falsas ou distorcidas circulando sobre a questão do novo coronavírus, notícias que muitas vezes podem ser perigosas para a saúde pública inclusive. Que tipo de cuidados se deve ter na hora de compartilhar ou repassar informações assim?

Ricardo Jorge – Um cuidado óbvio seria checar se aquela informação é verdadeira. Qual a procedência dela: é um veículo de comunicação conhecido, que tem responsabilidade pública com aquilo que divulga ou a sua procedência é desconhecida? O fato de você receber algo de um grupo social não diz nada sobre a origem dela; apenas que você recebeu a informação de alguém que, provavelmente, não a produziu, não a checou, não a verificou. Outro cuidado: a informação que pretendo compartilhar ou repassar é, de fato, útil? Na ideia atual de que tudo tem de ser rápido, parar para pensar se vale a pena repassar uma informação falsa ou distorcida é algo bastante sensato – até porque, se a informação for verdadeira e relevante, ela tenderá a chegar aos veículos de comunicação, mais cedo ou mais tarde, e chegará também ao seu círculo de amizades.

ufc{talks}  – Como o cidadão comum pode verificar se aquela informação é confiável? Quais as principais orientações para realizar uma checagem básica?

Ricardo Jorge – Verifique quem são os personagens da informação. Cientistas, institutos de pesquisa? Caso você tenha dúvida sobre eles, pesquise: há vários bancos de dados com informações sobre pesquisadores no Brasil, como o Curriculum Lattes, assim como há também os sites das instituições de pesquisa e universidades. Desconfie de informações incompletas, do tipo “um pesquisador teria dito...” ou “alguém me disse...”: jornalistas sérios não procedem assim; em geral, eles precisam dar a voz a alguém. Do mesmo modo, é útil desconfiar de textos que tenham caráter muito opinativo, com bravatas e coisas do gênero, e que soem bastante genéricos.

Conheça organizações que trabalham com checagem e verificação

ufc{talks}  – Com a adoção da política de isolamento, temos visto um crescimento muito grande no consumo da informação. Mas para algumas pessoas, dependendo do tempo despendido, isso pode gerar sinais de ansiedade. Existe um ponto ótimo entre se manter informado e não gerar uma sobrecarga informativa?

Ricardo Jorge – É muito recente, na história da humanidade, que tenhamos notícias circulando entre nós 24 horas por dia, como se elas fossem um vírus (o que não deixa de ser irônico). Antigamente, havia um horário para consumir notícias: lendo o jornal impresso de manhã cedo, assistindo à TV em casa ao chegar do trabalho, ouvindo o rádio antes de dormir. Hoje, temos acesso a elas quando queremos e quando não queremos. E informar-se “cansa”, já dizia o jornalista galego Ignácio Ramonet. O que podemos fazer nos dias de hoje? Tentar estabelecer uma rotina: se possível, por exemplo, definir em quais horários do dia podemos ter acesso às notícias. O mundo não se tornará diferente, melhor ou pior se você diminuir o consumo de informações. E acreditem: se ocorrer algo bastante sério, tanto os meios em geral quanto seus familiares e amigos darão notícias a respeito no menor tempo possível.

ufc{talks}  – Ao mesmo tempo, recente pesquisa do Datafolha revelou que a crise do coronavírus tem apontado uma retomada da credibilidade da mídia tradicional. O que isso nos diz?

Ricardo Jorge – Por mais que blogueiros e influenciadores digitais tenham ganho espaço no mundo digital, o jornalismo continua sendo um trabalho coletivo. E é justamente o trabalho dessa coletividade que permite um maior alcance do trabalho jornalístico (acesso a fontes próximas e distantes, entrevistas vindas de diferentes lugares), cobrindo o maior espaço possível. Não se faz jornalismo diariamente sozinho.

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