Servidora e bolsista de biblioteca da UFC criam canais de vídeos voltados a pessoas com deficiência

Print de tela de video no youtube de Geilson Santos entrevistando a servidora Clemilda SousaComo ver a vida sem enxergar nada. Essa é a descrição do canal "Vendo no Escuro", do estudante do terceiro semestre do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Ceará, Geilson Santos. Bolsista no projeto A Biblioteca Universitária e o Acesso à Informação: a Inclusão de Pessoas com Deficiência Sensorial em Foco, da Seção de Atendimento à Pessoa com Deficiência (SAPD), o jovem compartilha através do youtube as experiências e os desafios como graduando cego.

Com mais de 400 seguidores, o "Vendo no Escuro" tem em seus conteúdos informações relacionadas às ações de inclusão da Universidade, como nos vídeos "A inclusão de estudantes com deficiência no Ensino Superior", "Um olhar sobre a Secretaria de Acessibilidade da UFC" e "Acessibilidade informacional no Sistema de Bibliotecas da UFC". O canal retrata ainda o cotidiano acadêmico de uma pessoa com deficiência, como nos vídeos "O dia em que eu entreguei um trabalho em braille", "Uma aula de olhos vendados na UFC" e "Estudante relata como está sendo a sua experiência de estudar pedagogia na UFC". Há também entrevistas e curiosidades, por exemplo, como cegos podem usar as redes sociais e dicas sobre o que fazer na quarentena.

Explica Geilson que a ideia para o canal surgiu a partir de suas próprias vivências e desafios como pessoa com deficiência ao ingressar no ensino superior. "Quando entrei na Universidade percebi as dificuldades que os professores tinham para me ensinar. Então pensei: 'o mundo precisa saber dessa realidade'. Foi aí que surgiu a ideia do canal, criado com o objetivo de mostrar como é viver em um mundo tão visual sem enxergar nada", comenta.

O público-alvo principal dos vídeos, destaca Geilson, são pessoas com deficiência que já estejam ou queiram ingressar no ensino superior, mas o canal pode ser conferido por todos que se interessem pelas temáticas de inclusão e acessibilidade. "O objetivo principal é motivar outras pessoas com deficiência a entrarem na universidade e preparar todos os professores para essa realidade. O canal pode contribuir no conhecimento dos serviços que a Universidade oferece em relação à acessibilidade, no relacionamento com professores e entre colegas, e na luta por direitos, buscando fazer a diferença no ambiente universitário e, futuramente, no mercado de trabalho", afirma.

Coordenadora do projeto A Biblioteca Universitária e o Acesso à Informação, a bibliotecária e também pessoa com deficiência Clemilda Sousa conta que o projeto do qual Geilson faz parte foi desenvolvido para atendimento a alunos com deficiência na Universidade, com o propósito de facilitar o acesso à informação científica para esse público. A iniciativa integra as ações da Seção de Atendimento à Pessoa com Deficiência (SAPD) do Sistema de Bibliotecas da UFC. "Geilson é meu bolsista [de Iniciação Acadêmica] nesse projeto da PRAE [Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis] e é um dos alunos atendidos pela Biblioteca no serviço de digitalização e edição de textos. É um rapaz corajoso, que falou que desejava trabalhar conosco na Biblioteca para somar e crescer em conhecimento. Criou o canal para mostrar às pessoas 'sem deficiência' que ter uma deficiência não é uma sentença de morte, mas uma forma diferente de perceber o mundo", relata.

AÇÕES DE INCLUSÃOAlém da divulgação científica junto aos estudantes, a Seção de Atendimento à Pessoa com Deficiência (SAPD) vem atuando em uma série de formações voltadas aos servidores da UFC para o atendimento de alunos com esse perfil. Calcula Clemilda Sousa que mais de 200 pessoas já acompanharam as oficinas, palestras e minicursos do setor.

A Seção coordena uma rede de atendimento formada por nove bibliotecas da UFC em Fortaleza e no Interior e integra a Rede REBECA (Rede Brasileira de Estudos e Acervos Adaptados), primeira e, até o momento, única rede brasileira de estudos e conteúdos adaptados para pessoas com deficiência visual, ação entre as Universidades Federais do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade de Brasília (UnB) e a UFC. "O principal objetivo é o intercâmbio de informações técnicas e compartilhamento de catálogos e acervos adaptados para pessoas com deficiência visual ou com outras deficiências que impeçam a leitura de materiais impressos", esclarece Clemilda.

Atualmente, a SAPD também possui um canal no youtube no qual apresenta ações do projeto A Arte na Propagação de Saberes: Deficiência, Informação e Acessibilidade. Outra ação da SAPD é o curso A Arte de Incluir, iniciado em junho e que vem capacitando pessoas ligadas ao atendimento nas bibliotecas, bibliotecários, demais servidores e também bolsistas da UFC, para que sejam multiplicadores da política de inclusão no cotidiano. As aulas acontecem às quartas e sextas-feiras, em modalidade virtual, e contam com 27 cursistas.

"Em linhas gerais estamos estudando a legislação sobre os direitos das pessoas com deficiência com ênfase na educação e no acesso à cultura e a informação. Também vemos os mitos e preconceitos em relação à pessoa com deficiência, a produção de materiais em formato acessível, a audiodescrição como recurso de acesso à informação, uma introdução aos recursos de tecnologia assistiva, e a trajetória do Sistema de Bibliotecas nesse trabalho, com os serviços que oferecemos à comunidade", conclui Clemilda Sousa.

Fonte: Clemilda Sousa, coordenadora da Seção de Atendimento à Pessoa com Deficiência (SAPD) das Bibliotecas da UFC – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.