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Estudantes do Curso de Teatro integram elenco do filme "Cabeça de Nêgo", premiado pela APCA

O longa-metragem cearense Cabeça de Nêgo, escrito e dirigido por Déo Cardoso, que recebeu o prêmio de melhor filme de 2021, da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), expõe uma contundente realidade sobre o racismo no Brasil, tendo como cenário uma escola pública. Na trama, o protagonista é o estudante Saulo, vivido pelo ator Lucas Limeira, aluno concludente do curso de licenciatura em Teatro do Instituto de Cultura e Arte (ICA), da Universidade Federal do Ceará. Na produção atuam também o ator e produtor cultural Lucas Madi, egresso do curso, e a atriz Larissa Góes, cursando atualmente o sexto semestre.

No enredo, diante de um insulto racista na escola pública onde estuda e inspirado em um livro dos Panteras Negras, movimento afro-americano que fundou um partido antirracista e revolucionário, Saulo busca promover transformações na escola e enfrentará conflitos com colegas, professores e direção. É expulso, contudo se nega a deixar o estabelecimento, motivando outros colegas a se organizar e reagir. O filme, todo rodado no Ceará, tem sido sucesso de público e crítica.

Imagem: Lucas Limeira, concludente de licenciatura em Teatro da UFC, é protagonista do longa-metragem "Cabeça de Nêgo", premiado pela APCA (Imagem: Divulgação)

Aos 25 anos de idade e concluindo o Curso de Teatro, Lucas Limeira afirma que protagonizar o Cabeça de Nêgo representa profissionalização e reconhecimento de seu trabalho como artista. "Mais do que isso, representa um lugar que, por muito tempo, eu achei que não conseguiria acessar: estar protagonizando um filme, estar com minha cara nos cinemas", completa. Revela ainda que se sente muito feliz "por ser uma pessoa negra, um artista negro que veio da periferia", mas sem romantização, com muita consciência dos passos que deu: "Foi uma história de muito estudo, de muito trabalho, para chegar até aqui".

POTÊNCIA NEGRA – Em um País onde negros, principalmente jovens, são assassinados quase diariamente, Lucas Limeira fala sobre o papel da arte como forma de sensibilização e denúncia, mas reconhece que muito é preciso ser feito além da arte. Como artista, ele diz que o tempo todo tenta, com seus estudos e sua prática, falar sobre essas questões, mas destaca: "É válido se falar sobre as violências que a gente sofre, mas também falar sobre vida, sobre as potências que esses corpos têm, para que eles parem de ser vistos como corpos que são assassináveis e que sejam vistos como humanizados, como pessoas com toda a potencialidade que um jovem preto tem e com toda a contribuição que o jovem preto pode [dar]".

Para Lucas, o Curso de Teatro, ao longo de sua formação, foi um espaço de profissionalização e de entendimento das "diversas perspectivas, diversas formas de visão do mundo, do fazer artístico, e a partir disso eu pude entender o que eu queria fazer enquanto artista e seguir neste caminho", diz.

No curso, ele se uniu a outros estudantes negros, como Ana Karoline, Conceição Costa, Mateus Tupini e Gabe Antunes, e fundaram em 2017 o coletivo Teatro na Porta de Casa (@teatronaportadecasa), voltado para estudos e pesquisas sobre teatro e culturas negras. O jovem ator, concluindo o curso, está cheio de planos. Simultaneamente à dedicação ao coletivo, ele tem trabalhado em outros filmes e projetos de curtas e longas-metragens e espera "que logo, logo estejam saindo", informa.

 Imagem: Na cena, o estudante Saulo (Lucas Limeira) e, em destaque, imagem de Malcolm X (1925-1965), um dos mais importantes líderes do movimento antirracista afro-americano (Foto: Marcos Hirano)

VIVÊNCIA – Para a atriz Larissa Góes, o filme Cabeça de Nêgo é um retrato do que ela viveu durante a infância e adolescência como aluna de escola pública. "Quando se está inserida nos padrões mais vulneráveis que a desigualdade social impõe, essa realidade é comum e, por muitas vezes, confesso que, entre os meus 8 e 17 anos, não pude me dar conta das mazelas que se encasquetaram no ensino público, talvez não tivesse autoestima o suficiente para entender que não era aquilo que me deveria ser fornecido enquanto estudante, enquanto cidadã", comenta ela.

Reconhece que, como mostrado no filme, "existem pessoas que acreditam e lutam para que esse ciclo vicioso se encerre, mas é um trabalho difícil e pouco estimulado. Cabeça de Nêgo me trouxe essa memória que ainda é viva e estar também contando essa história é ter a oportunidade de dar um grito de reivindicação que me foi tomado quando a mesma narrativa me atravessou anos atrás", declara.

Imagem: Da esquerda para a direita Francisco Erik, Lucas Limeira, o ator baiano Val Perré, Conceição Soares e Gabe Antunes. Com exceção de Val, todos integram o coletivo Teatro na Porta de Casa (Foto: Divulgação)

A Profª Tharyn Stazak, coordenadora do Curso de Teatro, considera da maior importância a participação dos alunos no filme e a premiação da película. "É ver reconhecido o trabalho dos atores e da atriz. O fato de a temática trazer um lugar de evidência de uma luta diária desses corpos que se fizeram também na trajetória no curso". Ela destaca que muitos graduandos e egressos têm participado de produções teatrais e em audiovisual no Ceará com seus próprios trabalhos e "batalham para se inserir nesse círculo profissional".

Quem ainda não viu, Cabeça de Nêgo pode ser visto no Globoplay e também em exibições pontuais que são divulgadas pelo Instagram do filme (@cabecadenegoofilme). 

Fonte: Profª Tharyn Stazak, coordenadora do Curso de Teatro do ICA/UFC – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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