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Em alusão ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, pesquisadoras falam sobre projetos e desafios

As mulheres estão cada vez mais atuantes na sociedade, mas a equidade de gênero ainda é um desafio, especialmente, no campo dos estudos e profissões ligados às STEM, sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Para fortalecer o compromisso global com a igualdade de direitos entre homens e mulheres, principalmente do ponto de vista da educação, e incentivar o público feminino às carreiras científicas, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) instituiu, em 2015, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado em 11 de fevereiro.

O reitor da UFC, Prof. Cândido Albuquerque, destaca que recentes relatórios sobre mulheres na ciência revelam que elas "representam menos de 30% dos pesquisadores no mundo e que a disparidade aumenta nos escalões mais altos da carreira científica". Para o reitor, então, "cabe a todos enquanto sociedade – e mais pujantemente a nós que integramos as academias – dar visibilidade às contribuições brilhantes e ao trabalho valoroso de mulheres que, seja na docência ou na pesquisa, dedicam-se profissionalmente ao avanço dos campos científico, tecnológico e educacional".

Na UFC, projetos de iniciação científica incentivam as estudantes desde a graduação. Na pós-graduação, 46% dos líderes de grupos de pesquisa são mulheres e 50% dos discentes de pós-graduação também são mulheres, sendo que nos cursos de STEM elas representam apenas 35,4%, de acordo com a coordenadora de Pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG), Profª Geanne Matos de Andrade.

Em alusão ao 11 de fevereiro, a UFC Informa ouviu tanto cientistas da Universidade reconhecidas internacionalmente quanto pesquisadoras em formação sobre suas trajetórias e desafios.

Imagem: A Profª Diana Azevedo considera que a equidade de gênero na ciência passa por um jeito diferente de educar nossa sociedade – não só "elas", mas também "eles" (Foto: Acervo pessoal)

ENGENHARIA – A Profª Diana Azevedo, vice-diretora do Centro de Tecnologia da UFC, tem um motivo especial para celebrar a data. Seu destaque recente é a participação em projeto do Imperial College London (ICL), instituição inglesa líder de um projeto financiado pelo British Council, cujos parceiros brasileiros são a UFC e a Universidade de Campinas (UNICAMP), que incentiva mulheres nas ciências.

"O projeto compõe com outros 8 do grupo de propostas aprovadas à Women in Science: UK-Brazil Gender Equality Partnerships Call. O objetivo da chamada é influenciar o desenvolvimento de políticas e práticas institucionais que permitam o estabelecimento da equidade de gênero na ciência e tecnologia em instituições de ensino superior e pesquisa no Brasil", informa ela.

Graduada em Engenharia Química pela UFC, Diana possui mestrado em Engenharia Química pela Universidade Federal de São Carlos (1993) e doutorado em Engenharia Química pela Universidade do Porto (2001). Ela conta que seu gosto desde menina pelas ciências exatas e o incentivo do pai e tios engenheiros a levaram a estudar Engenharia.

Na graduação, as atividades de iniciação científica motivaram a opção pela pesquisa em ciência. Com a crise de empregos nas Engenharias nos anos 80, voltou-se para a pós-graduação e optou definitivamente para a pesquisa, buscando colocação profissional no meio acadêmico.

Em 1994, na UFC, foi da equipe fundadora do Grupo de Pesquisa em Separações por Adsorção (GPSA), do qual ela destaca o estudo "em armazenamento de gás natural na forma adsorvida como alternativa ao seu transporte a regiões não servidas de gasodutos. A pesquisa, com apoio da Petrobras, resultou na primeira patente da UFC aprovada pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI)", detalha. 

Outro trabalho que ela destaca é o "desenvolvimento de materiais adsorventes mais seletivos para a captura de CO2 e o estudo de processos alternativos que realizem a captura deste gás de efeito estufa de modo cíclico a partir de gases efluentes de combustão". A pesquisa conta com apoio de órgãos públicos e de empresas do setor elétrico do Brasil. Além disso, acrescenta que "a temática de captura e conversão de CO2 é também o contexto de um dos 17 projetos de colaboração internacional da UFC, sob minha coordenação, dentro do programa CAPES/PRINT".

Sobre o 11 de fevereiro, ela afirma que "apesar de termos atingido paridade de gênero no contingente de estudantes do nível superior no Brasil, há profundas desigualdades de gênero nas áreas STEM já na graduação, que se exacerbam na pós-graduação e no processo de ascensão dentro da carreira de pesquisador". Diante de múltiplos desafios para a formação e a carreira de cientistas mulheres, a professora expressa que "a igualdade de gênero em qualquer setor econômico e, particularmente na ciência, passa necessariamente por um jeito diferente de educar nossa sociedade – não só elas, mas também eles".

Imagem: A Profª Cláudia Pessoa envia uma mensagem: "Meninas cientistas, acreditem no seu potencial de fazer ciência e de inovar para fortalecermos a soberania do nosso País” (Foto: Jarbas Oliveira)

CIÊNCIAS DA SAÚDE – A Profª Cláudia do Ó Pessoa, docente titular de Fisiologia do Departamento de Fisiologia Farmacologia da UFC, revela que a curiosidade pela leitura e pelo conhecimento, trazida de berço familiar, continuou ao ingressar no Curso de Farmácia (1986) na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Estudiosa, seguiu para o mestrado e doutorado em Farmacologia na UFC, e pós-doutorado na University of British Columbia (2008).

Após a graduação, no IV Curso Nacional de Especialização em Farmacologia de Produtos Naturais, Cláudia diz que brotou nela o "início do conhecimento pelas plantas medicinais e sua potencialidade terapêutica como fonte inesgotável e inspiradora de novas moléculas para o desenvolvimento de novos fármacos". Iniciou-se, então, no mundo da "pesquisa multidisciplinar envolvendo as áreas da botânica / farmacognosia, química e farmacologia".

No mestrado e doutorado na UFC, sob orientação do Prof. Odorico de Moraes, aprofundou os estudos, consolidando uma trajetória científica sólida, ao longo de 30 anos, "na busca e identificação de moléculas com potencial anticâncer oriundas dos diferentes biomas do Brasil, vindo a contribuir no estabelecimento da linha de pesquisa em Oncologia Experimental, visando à prospecção de moléculas com potencial anticâncer", conta.

A pesquisa tem reconhecimento em âmbito nacional e internacional por dois grandes centros de pesquisa na área da Oncologia, o National Cancer Institute - (NCI), dos Estados Unidos e a Australian National University (ANU). E, mais recentemente, também reconhecido pelo Programa Nacional em Oncologia (PRONON), em cooperação com o Grupo de Educação e Estudos Oncológicos (GEEON), apoiado pelo Ministério da Saúde.

Se é fato o êxito de mulheres na ciência como ela, na avaliação da professora, "a representividade das mulheres cientistas continua sendo limitada, pois esbarra no fato de que devemos desconstruir uma cultura que educa meninas e meninos de maneira diferente e com atuação profissional diferenciada". A Profª Cláudia Pessoa considera necessárias políticas públicas que impulsionem as jovens cientistas.

E para as meninas e jovens, ela deixa um recado: "Meninas cientistas, que os seus sonhos sejam a força propulsora para uma vida plena de realizações e para uma sociedade igualitária. Meninas cientistas, acreditem no seu potencial de fazer ciência e de inovar para fortalecermos a soberania do nosso País".

Imagem: A aluna de doutorado Letícia Lima reconhece que para poder estar fazendo ciência hoje, outras batalharam no passado por esse espaço (Foto: Acervo pessoal)

BATALHA – Letícia Régia Lima Cavalcante, estudante de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia, da Faculdade de Medicina, diz que hoje respira ciência. "Faz parte da minha vida não só como usuária, mas também como produtora. Mas, se olharmos para o passado, dificilmente eu, na condição de mulher, poderia atuar como profissional na área da pesquisa".

Para ela, "fazer ciência como profissão foi um caminho natural, tendo em vista meus gostos e aptidões pessoais. Mas sabemos que, para que eu possa estar aqui hoje, alguém teve que batalhar no passado por esse espaço. Quantas meninas não tiveram seus sonhos e vocações frustrados para viverem dedicadas ao lar? A avó do meu marido, por exemplo, sonhava em ser médica, mas foi privada dos estudos na oitava série para ingressar em um curso de afazeres domésticos", acentua.

Letícia avalia que ainda há muito a ser conquistado em termos de espaço e visibilidade. "Portanto, meninas, não desistam! Vocês podem sonhar sim em um dia serem cientistas! Mas sem nunca se esquecer que um dia alguém teve que batalhar por esse espaço", declara.

Imagem: A estudante Lorrane Curvello, de Química Industrial, considera o 11 de fevereiro, uma data importante para "a representatividade do gênero feminino na construção do pensamento científico” (Foto: Acervo pessoal)

DESPERTAR – A estudante Lorrane Curvello Lima, 23 anos, cursando o 6º semestre de Química Industrial, despertou para a ciência durante o ensino médio, tendo como inspiradores alguns professores e lendo sobre os feitos da cientista Marie Curie (1867-1934), pioneira nos estudos sobre radioatividade. Na UFC, dá passos firmes no universo da pesquisa como bolsista de iniciação científica, atuando no grupo de pesquisa em Biotecnologia e Espectrometria de Massas (BioMass), no Departamento de Química Orgânica e Inorgânica, da UFC.

Sua recente área de estudo, desde 2020, tem nome esquisito – metabolômica. "É uma pesquisa voltada para o estudo do potencial de fungos endófitos contra fungos causadores de doenças em frutos tropicais. Representando um potencial alternativo no controle de pragas", explica.

Para a jovem pesquisadora, o melhor de atuar numa universidade pública é "a maior facilidade de ingressar em projetos de pesquisa e de extensão". Como cientista mulher, no entanto, reconhece desafios a vencer como "a discriminação e a falta de visibilidade no âmbito científico". Assim, considera o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência uma data necessária porque "mostra a representatividade do gênero feminino na construção do pensamento científico".

A mensagem que ela envia para outras meninas e jovens como ela é "que a cada dia, a gente possa deixar os estereótipos de lado, pois se a ciência abrange uma gama de áreas é porque sempre teve uma figura feminina no meio científico. E que nós, mulheres, nunca deixemos de correr atrás dos nossos sonhos e realizações".

Fonte: Profª Geanne Matos de Andrade, coordenadora de Pesquisa da PRPPG – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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