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Pesquisas da UFC avaliam impactos da covid-19 em bebês, adultos e profissionais da saúde

Desde o surgimento de uma doença relacionada a um novo vírus na China, em dezembro de 2019, pesquisadores iniciaram uma busca por mais explicações do que hoje conhecemos como SARS-COV-2, o vírus causador da covid-19. A enfermidade se alastrou pelo mundo inteiro, chamando a atenção da comunidade científica internacional.

Como parte desse esforço mundial, a Universidade Federal do Ceará também tem atuado em pesquisas e ações para mitigação e conhecimento da doença. Uma delas é o projeto Complicações Neuropsiquiátricas Decorrentes da Exposição Pré-Natal ao Vírus SARS-COV-2: Atenção ao Binômio Mãe-Bebê, coordenado pela Profª Danielle Macêdo Gaspar, vice-diretora da Faculdade de Medicina (FAMED) da UFC e pesquisadora do Laboratório de Neuropsicofarmacologia do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da UFC.

Imagem: foto de uma barriga de mulher grávida

O estudo, que envolve uma equipe multidisciplinar de pesquisadores e estudantes de pós-graduação, busca avaliar os impactos da exposição ao coronavírus na gravidez e possíveis complicações nos bebês e integra a COVGEN, aliança internacional de pesquisas sobre as consequências da covid-19 para a próxima geração, sendo, até o momento, o único representante brasileiro a participar do grupo.

A coordenadora do estudo explica que o projeto atua com protocolos clínicos e pré-clínicos, o que permite acompanhar crianças nascidas de mães que tiveram covid-19 durante a gestação e investigar possíveis complicações a longo prazo. "Já se sabe que exposição a doenças virais na gravidez é fator de risco para o desenvolvimento de doenças neuropsiquiátricas, como autismo e esquizofrenia", afirma.

No protocolo clínico, coordenado pelo Prof. Francisco Herlânio Carvalho, responsável pelo setor de Medicina Fetal da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC), os pesquisadores trabalham com três grupos: mulheres que tiveram covid-19 na fase final da gravidez; gestantes que tiveram síndrome gripal cujos testes não confirmaram covid-19; e gestantes que não foram expostas a nenhum agente infeccioso. O estudo já coletou material (placenta, cordão umbilical e líquido amniótico) de 35 mulheres do primeiro grupo, 30 do segundo, e agora está recrutando grávidas do terceiro, que farão parte do grupo de controle da pesquisa.

Ainda como parte do protocolo clínico, neonatologistas, pediatras e fisioterapeutas fazem acompanhamento mensal dos bebês no Núcleo de Tratamento e Estimulação Precoce (NUTEP). A expectativa, segundo a Profª Danielle, é acompanhar essas crianças até os 3 anos de idade, fazendo, a cada seis meses, coleta de material biológico (como sangue, saliva e fezes) e avaliações para verificar se estão com algum tipo de alteração no neurodesenvolvimento.

Já no protocolo pré-clínico, os pesquisadores irão expor camundongos ao SARS-COV-2 original (identificado na China) e à variante Gama (antiga P.1, identificada em Manaus). Nesta fase do estudo, que deverá ocorrer no biomódulo do NPDM (laboratório de biossegurança 3, previsto para ser inaugurado no mês de setembro), o grupo acompanhará os animais durante a gestação e ao longo da vida dos filhotes em idades que representam a infância e a idade adulta do ser humano.

"Com a abordagem pré-clínica, vamos conseguir entender melhor as consequências da exposição ao vírus durante a gravidez e a longo prazo. O que a gente precisaria acompanhar essas crianças ao longo de 20 anos, a gente pode fazer em dois meses no animal de laboratório", comenta a coordenadora do estudo, observando que um camundongo com 25 dias de nascido corresponde a uma criança de quatro anos de idade, e 60 dias de vida do animal representam um ser humano adulto.

RESPOSTA IMUNE E TROMBOSE – Em outro estudo, pesquisadores da UFC buscam determinar os genes do sistema imune e da coagulação em pacientes com covid-19 grave e moderada. Foram coletadas mais de 700 amostras de plasma de 288 pessoas acima de 18 anos internadas em unidades de terapia intensiva (UTIs) e em enfermarias destinadas a pacientes com covid-19 em um hospital do Sistema Único de Saúde (SUS) localizado na capital cearense.

Atualmente, o projeto Análise Clínico-Molecular da Imunotrombose na Covid-19, liderado pelo Prof. Ronald Feitosa Pinheiro, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas (PPGCM), realiza experimentos com a análise da expressão gênica dos genes-alvo. "Estamos avaliando se os genes relacionados à imunidade e à coagulação estão mais ou menos expressos nos pacientes críticos com covid-19", explica a mestranda Lara Silveira, integrante da pesquisa.

Imagem: foto de um jovem, de máscara e jaleco, usando equipamentos laboratoriais

Após finalizar a avaliação da expressão gênica, realizada pela técnica de RT-PCR, os pesquisadores vão comparar os resultados com as análises de bancos de dados clínicos dos pacientes. "Compararemos o padrão de resposta imune e o perfil de formação de coágulos no corpo com dados clínicos, como necessidade de oxigênio e de ventilação mecânica; laboratoriais, como presença de plaquetopenia e anemia; e desfecho clínico [dos pacientes], como alta ou óbito", esclarece.

E por que estudar a relação da resposta imune e trombose com a doença causada pelo SARS-COV-2? Lara explica que a resposta imune obedece a um certo padrão, mas que pode variar em cada pessoa a depender de fatores como idade, presença de doenças crônicas ou comorbidades. "A resposta imune também ativa o sistema de coagulação, e nós queremos entender como isso ocorre na covid-19, uma vez que temos um estado de inflamação intenso que promove a formação de trombos", destaca.

Além do Prof. Ronald Pinheiro, que também coordena o Laboratório de Citogenômica do Câncer do NPDM, e de Lara Silveira, a pesquisa envolve mestrandos e doutorandos do PPGCM e bolsistas de iniciação científica da Faculdade de Medicina da UFC.

SAIBA MAIS – Os dois estudos fazem parte da Rede de Pesquisa de Pós-Covid-19 do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), no âmbito da Rede Vírus MCTI, sendo financiados com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), MCTI e Ministério da Saúde oriundos de uma chamada pública de pesquisas para enfrentamento da covid-19, suas consequências e outras síndromes respiratórias agudas graves.

Além deles, outras duas pesquisas da UFC recebem financiamento dessa mesma chamada. No projeto Efetividade do Acesso, Atendimento Clínico e Acompanhamento das Pessoas com Covid-19 e Outras Síndromes Respiratórias Agudas, pesquisadores acompanham pacientes com sintomas gripais em três estados do Nordeste brasileiro.

Assista à reportagem da UFCTV sobre o estudo:

Já em Avaliação de Riscos de Profissionais de Saúde Que Cuidam de Pessoas com Covid-19, liderado pela Profª Lígia Kerr, da Faculdade de Medicina, pesquisadores analisam os riscos de profissionais da saúde durante a pandemia de covid-19 no País, com ênfase no uso de equipamentos de proteção individual (EPI) e na saúde mental desses trabahadores.

Fontes: Profª Danielle Macêdo Gaspar, do Laboratório de Neuropsicofarmacologia do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da UFC – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.; Lara Silveira, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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