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Ecossistema marinho: pesquisa liderada pela UFC indica existir um único e extenso recife na América do Sul

Uma pesquisa pioneira liderada pelo Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR) da Universidade Federal do Ceará e pela Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar) demonstrou que os recifes brasileiros integram um único e extenso ecossistema marinho na costa da América do Sul, se estendendo da Guiana Francesa ao sudeste do Brasil. 

Imagem: Fundo com mar com coral e peixes na frente e mergulhador ao fundo.

O estudo, que contou com a participação de pesquisadores do Brasil, Itália, Alemanha e Estados Unidos, resultou na publicação de um artigo na revista Scientific Reports, do grupo Nature – um dos mais importantes do mundo na área de periódicos científicos. O trabalho é intitulado “Interconnected marine habitats form a single continental-scale reef system in South America” (“Habitats marinhos interconectados formam um único sistema de recifes de escala continental na América do Sul”, em tradução livre). 

“Estamos falando de um único e vasto sistema recifal com quase 4 mil quilômetros, com tamanho comparável ao da Grande Barreira de Corais da Austrália e da Barreira Mesoamericana no Mar do Caribe (América Central). A América do Sul não tem somente uma das maiores florestas tropicais (Amazônia) e planícies alagáveis (Pantanal) do mundo, mas também um dos maiores recifes tropicais”, explica um dos coordenadores da pesquisa, Prof. Marcelo Soares, do LABOMAR. 

PRINCIPAIS ACHADOS – Foram obtidos dois achados principais a partir das evidências coletadas. O primeiro foi a existência de um recife tropical extenso na costa semiárida do Brasil (compreendendo os estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte), com cerca de mil quilômetros de extensão. Ele foi detectado através da coleta de dados por filmagens submarinas e informações científicas já publicadas sobre o ecossistema. Além disso, foram feitos mapeamentos usando imagens de satélites e mergulhos para análise da vida marinha em espécies como corais, algas, peixes e esponjas, para obter mais evidências.

Imagem: Fundo do mar e coral à frente da imagem

“Essa região da costa semiárida nordestina era dita como pobre nesses ambientes, porém os dados que levantamos mostram o contrário: mapeamos cerca de 192 recifes, sendo esses frequentes entre 20 e 50 metros de profundidade e abundantes abaixo de 50 metros. O alinhamento e a conexão desses ambientes são claros nos mapas e mostram que eles são parte de um único e imenso sistema recifal com área potencial de 34 mil quilômetros quadrados”, afirma Pedro Carneiro, primeiro autor do artigo e biólogo da UFDPar.

INTEGRAÇÃO – O segundo achado foi a comprovação de que o sistema recifal da costa semiárida está integrado com os outros dois existentes na América do Sul. Um deles é o da costa amazônica, já identificado por pesquisas realizadas nos últimos 50 anos. Ele se estende por aproximadamente mil quilômetros entre a Guiana Francesa e o estado do Maranhão. O outro é o da costa leste brasileira, que tem aproximadamente 2 mil quilômetros de extensão e vai do litoral do Rio Grande do Norte até a região Sudeste.

“Não existe sentido no recife amazônico parar no Maranhão, porque não há nenhuma barreira natural lá. Quando se coloca no mapa os três componentes (recife amazônico, o da costa semiárida e o da costa leste) se vê claramente que temos um grupo único de recifes”, aponta Marcelo Soares.

O trabalho dos cientistas analisou dois bancos de dados disponíveis (um com 2.412 espécies e outro com 8.375 espécies) que mostram a existência de uma clara conexão da vida marinha entre os três componentes do sistema recifal da América do Sul. Essa conectividade acontece pelas correntes marinhas, pela reprodução e pelo movimento dos animais.

Os pesquisadores do LABOMAR que participam do artigo contam com recursos da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP) em seus estudos, em especial por meio do Programa Ecológico de Longa Duração (PELD) e do Programa Cientista-Chefe. 

A íntegra da pesquisa está disponível (em inglês) no site da revista Scientific Reports.

Com informações da FUNCAP. 

Fonte: Prof. Marcelo Soares, do Instituto de Ciências do Mar – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. 

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